sábado, 30 de outubro de 2010

Proseando sobre... Insolação


A cineasta Daniela Thomas famosa por seu trabalho na direção de “Linha de Passe” e por participar do roteiro de “Abril Despedaçado” assume a direção ao lado do famoso diretor de teatro Felipe Hirsch nesse dramalhão intitulado “Insolação” que conta sobre o vazio existencial e amoroso.  Nome estranho, nada atrativo. Se tem gente que não gosta de cinema nacional, com esse título então!? Já ouvi gente dizer que os brasileiros não sabem dar nome à seus filmes. Discordo em partes. Esse projeto ainda conta com um elenco de respeito encabeçado por Paulo José, e ainda Simone Spoladore, o talentosíssimo Leonardo Medeiros e as ótimas Maria Luisa Mendonça e Leandra Leal.

O filme fala de solidão – desamparo, desejo inalcançável; essa última palavra deve ser destacada. Fala de amor de um jeito todo poético e de sua inacessibilidade através dos olhos de personagens bem compostos, incluindo, para pasmar, o almejo de uma criança frente a sua primeira paixão já bem crescidinha. O roteiro busca acessar a aspiração apaixonada e utiliza até uma ninfomaníaca entre outros tipos sobrevivendo a frustrações amorosas num litígio de amor mal resolvido. A solidão domina a tela, observe que a cidade – com locações em Brasília – é erma e as formas de vida se dão apenas com a presença dos personagens centrais.

O roteiro é escrito por Will Eno e Sam Lipsyte e os caras não dispensam a alegoria filosófica, presente logo em seu início quando o personagem Andrei (Paulo José) interage com o público levantando questões sobre a vida, cena fechada interrompida quando o leva até outro lugar com livros de baixo do braço entre eles uma introdução da literatura Russa. É o indicativo de onde a história toda foi inspirada. Ali ideais são levantados enlaçando os poucos interessados em ouvi-lo. Desenrola aí um discurso sobre o amor atingindo seus ouvintes incautos como uma flecha propensa a provocar e incomodar.

Não é um filme para todos os gostos. Daniela Thomas e Felipe Hirsch entregam uma constituição que cairia bem enquanto literatura, mas aqui com a oportunidade de fotografar. Nesse quesito o diretor de fotografia Mauro Pinheiro Jr. se sobressai. A história reúne o cotidiano dos personagens recortando cenas e misturando-as. O calor predominante e castigador de Brasília recai sobre esses solitários seres transitando a procura do amor confundindo sua afeição carente com insolação. Provém daí o título, como um símbolo em meio a tantos outros que apóiam a estrutura dramática desse filosófico drama pessoal o qual exercita a criatividade e a atenção de seus espectadores diante algo diferente, mas por vezes – aliás, muitas vezes – longínquo tal como o amor. 

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Proseando sobre... Pânico na Neve


O medo frente à possibilidade do fim. Esse é o assunto discutido no pequeno “Pânico na Neve”, filme do diretor e roteirista Adam Green, um cara que vem se destacando nos últimos anos dentro do gênero terror. São dele os filmes “Circulo do Pânico” e “Terror no Pântano”. Este segundo irá ganhar uma continuação. Seu novo trabalho lhe rendeu reconhecimentos, mas teve pouca visibilidade no Brasil. A história conta sobre uma viagem entre três amigos que decidiram passar alguns dias numa estação de esqui e, após um dia cheio, escolheram dar um último passeio pelo teleférico e não demorou muito para se flagrarem esquecidos nas montanhas, no escuro, tremendo de frio, num sofrimento de uma noite de inverno rigoroso e prolongado.

A tensão movimenta o filme com o quebra gelo de diálogos amenos e relativamente bem desenvolvidos aproximando o espectador das características dos amigos: Joe Lynch (Shawn Ashmore, o homem de gelo de “X-Men”) e Dan Walker (Kevin Zegers da franquia “Bud”) e sua namorada Parker O'Neil (Emma Bell). O diretor explora o horror circunstancial de seus personagens obrigados a arriscarem de tudo para escapar daquilo que seria um fim inevitável e doloroso. As adversidades são tremendas: se não bastasse o frio torturante e as feias queimaduras do gelo, ainda convivem com a fome e com uma alcatéia faminta os rodeando.

A apreensão disseminada alcança os espectadores, culminando numa experiência cinematográfica breve e perturbadora. O medo recorrente estoura e aprisiona o trio nesse contexto abrindo espaço para a reflexão existencial urgencial a qual estão envolvidos, e não obstantes, o convívio transforma-se num gradual desespero e ruína. Green consegue ser feliz em sua proposta de entretenimento sádico e apresenta o passo a passo dessa aventura caótica, com cenas imanentes, centradas a maior parte do tempo num só lugar. O heroísmo pretendido é fragmentado colocando a amizade à prova, sugerindo ao público, que anseia por um feliz final uma idealização terminal a todo aquele sofrimento. Quase conseguimos sentir toda aquela dor; já o medo, afastando-se de vez de qualquer esperança, persiste até o final aparentemente irremissível.


terça-feira, 26 de outubro de 2010

Proseando sobre... Ela é Demais Pra Mim


Algumas vezes assistimos filmes sabendo que em uma semana não iremos mais lembrar. É só distração, passatempo descompromissado. Com sorte, eles ainda conseguem nos tirar algumas risadas. Essas coisas costumam acontecer com comédias românticas, - veja, não estou desmerecendo - há algumas boas no mercado, é verdade. Mas a maioria, só de lermos o título acaba sendo inevitável não torcermos o nariz. Claro que isso não é exclusivo dessas comédias, há ainda aquelas pastelões, terríveis, às quais nos flagramos rindo de nós mesmos. Sim, isso é comum a todos os gêneros. Felizmente, há aqueles que sobressaem, e embora simples, impressionam. Exceções à regra.

“Ela é Demais Pra Mim” é um desses exemplos, uma pérola valiosa que merece ser reconhecida. Um cara conhece a mocinha e situações irão complicar a vida dos dois. Isso poderia ser uma sinopse de vários filmes e não é diferente aqui, no entanto, a surpresa começa com a musa da história, uma loira que atrai todos os olhares, a advogada Molly, vivida por Alice Eve (“Território Restrito”). Ela é um sucesso com os homens, leva uma vida muito mais que confortável e está em ascensão. No aeroporto, conhece Kirk (Jay Baruchel de “O Aprendiz de Feiticeiro”), um segurança sem grandes ambições, choroso pelo último relacionamento frustrado. Ele encontra o iPod da loira e, após uma ligação, é convidado a levar o aparelho até ela numa festa em um museu. Aí as coisas começam a acontecer. Um flerte, ainda mais com uma mulher como Molly, era algo impensável para Kirk e seus amigos. Considerada nota 10, o jovem se via como um mero 5 e tal avaliação era consentida por seus amigos, sobretudo por Stainer (T.J. Miller) que tem uma teoria sobre essas combinações numéricas.

O protagonista, desmotivado, refuta as perspectivas de Molly, interessada no rapaz e crente quanto à possibilidade de ser feliz com um homem simples. O roteiro ficou a cargo da dupla Sean Anders e John Morris, os caras que escreveram “Sex Drive”. Eles realizam um trabalho diferenciado tal como alguns exemplos recentes: “Ligeiramente Grávidos” e “Eu te Amo, Cara”. São filmes que brincam com seus personagens enquanto narra dramas naturais de jovens adultos com toda autenticidade e personalidade. “Ela é Demais Pra Mim” fala muito mais do que de relacionamento, se escora na idealização do futuro e nas inseguranças de caras comuns, trazendo notoriedade cativante através da caracterização de seus bem desenvolvidos personagens facilitando identificações.

É o tipo de filme que tem êxito pela simplicidade e cumplicidade com o espectador que acompanha uma verdadeira jornada sexual através das infelicidades de Kirk, preso num passado cômodo e quase incapaz de encarar a novidade e aceitar algo considerado pelo próprio absurdo acontecer em sua pacata e humilhante - socialmente, profissionalmente e entre os familiares - vida. O que torna alguém perfeito irá mover o filme e a cobiça desse ideal irá empurrar uma divertida história de medo, insegurança, ansiedade e confiança para o colo do espectador. Muito embora traga alguns elementos típicos de comédias clichês do gênero, às vezes em tom apelativo, não perde o brilho de sua originalidade.

O diretor Jim Field Smith tem em mãos atores em sintonia, colocando a mulher como referência e desejo no centro e os homens sem embates grotescos propensos a transformar a mocinha em mero troféu. Mérito também do diretor em não subestimar a inteligência do público e de seus personagens. Jay Baruchel parece uma versão atual de Justin Long em algumas cenas. Alice Eve convence e Lindsay Sloane, como a ex-namorada de Kirk, merece atenção. Ao final, deverá restar um sorriso no rosto do público e isso é o bastante.  



domingo, 24 de outubro de 2010

Proseando sobre... Fúria de Titãs



Perseu é vivido por Sam Worthington
Muitos esperam com certa expectativa um filme que faça jus a contos mitológicos reproduzindo-os com a competência que merecem. Eis que surge “Fúria de Titãs”, dirigido por Louis Leterrier, disponível em DVD, e a possibilidade diante uma oportunidade dessa refilmagem atender as idealizações de fãs de mitologia. Novamente, a decepção acontece. E não é por falta de caracterização ou ausências, vários personagens estão lá, representados com elegância refinada, no entanto, os contos estão distorcidos, adaptados segundo as exigências do cinemão e isca para o grande público.

Perseu em cena ao lado de Io (Arterton)
“Fúria de Titãs”, portanto, carece simplesmente de uma narração com ímpeto melhor que não a obrigatoriedade de se tornar referencia a febre 3D. Pensar que a tecnologia parece se tornar um obstáculo para boas histórias é algo preocupante. Centrado na jornada do semideus Perseu, interpretado por Sam Worthington de “Avatar”, o filme abusa de efeitos especiais e traz cenários que assoberbam, mérito máximo da produção. São tantos os vigores técnicos que fica difícil enumerar por ordem os mais impressionantes. Os cavalos alados deslumbram, os escorpiões gigantes enchem os olhos e as batalhas bem coreografadas empolgam. Claro que isso funciona melhor para quem está preocupado unicamente a ação.

Na história: quando a cidade de Argos é exigida a fazer um sacrifício pelos Deuses – ofertar a vida de sua princesa Andrômeda (Alexa Davalos), – tem início uma batalha entre as divindades e os homens. A ameaça se dá pelo monstruoso gigantesco Krakos que irá arruinar a cidade inteira. Aí Perseu entra em cena e parte em busca da única forma de vencer essa criatura, ao lado de outros guerreiros, entre eles Draco (Mads Mikkelsen) e a bela Io (Gemma Arterton). Escrito por três roteiristas a partir do roteiro de 1981 desenvolvido por Beverley Cross, o longa metragem exibe a idealização de dois mundos, e a supremacia e imponência de Zeus (Liam Neeson) e Hades (Ralph Fiennes).

A Medusa é a mais bela figura do filme

Tendo um destino épico, o longa será facilmente lembrado pela geração como uma das batalhas mais memoráveis – pena ficar somente nisso – e para os fãs do original resta acompanhar mais do mesmo agraciado pela tecnologia, em especial a computação gráfica memorável. Que bom seria uma narrativa que prezasse como merece esses mitos gregos tão importantes para o ocidente, o cinema ainda pede um exemplar a sua altura. Não restrito somente a grandes Deuses, o longa lembra de Apollo, Athena, Hermes e Poseidon em passagens modestas. Espectros surgem nos vários planos apresentando os diversos personagens, em especial, a medusa, idônea e surpreendente, tornando-se numa das mais belas figuras do filme. Leterrier lança mão de originalidade para se entregar ao hábito natural de encher os cofres de seus realizadores, incidindo num outro sacrifício: a história.  




sábado, 23 de outubro de 2010

Proseando sobre... A Onda


 O poder por si próprio, princípio da autocracia, regime pelo qual um único homem detém o comando completo de um grupo. A autocracia é o plano de fundo de “A Onda”, novo filme alemão com temática escolar num país que conviveu há algumas décadas com o nazismo. A questão que se coloca é: será que a Alemanha poderia reviver essa política em dias atuais? Em sala de aula, alunos divergem e discutem essa possibilidade, especulando sobre o novo contexto mundial. Por fora, corre ainda outra indagação: pelo que os jovens hoje lutam? A falta de referências e de ideologias é mostrada levando a busca desenfreada por questões urgenciais, por prazer, recaindo em bebedeira entre outras drogas.

Rainer Wegner (à dir.) é o idealizador
O professor de ensino médio Rainer Wegner – cheio de personalidade, com música alta e camiseta do Ramones – está a caminho da escola pretendendo dar aula de anarquismo. Frustrado quando recebe a notícia de que outro professor assumiu a matéria, se vê obrigado a se contentar com a disciplina de autocracia e decide levar o tema a contragosto para a sala de aula. Não demora muito para perceber o desinteresse de seus alunos. O professor decide inovar: leva a questão para a prática e incita uma formação de um grupo como exemplo do que seria esse modelo de governo. Eles criam um nome, “Die Welle” – traduzido como “A Onda” – denominam um líder, constituem um ideal, bolam um símbolo, se uniformizam e estabelecem uma saudação.

"A Onda" se dissipa
O filme, dirigido por Dennis Gansel, é baseado em fatos verídicos, num acontecimento parecido numa cidade da Califórnia nos anos 60, e recria o ato, utilizando de dezenas de alunos capturados pela lógica proposta pelo professor a qual é rapidamente tomada contaminando outras pessoas que se juntam e levam a coisa toda a sério demais. A manipulação de massas é registrada com destreza pelas mãos de Gansel, transformando seu trabalho num dos grandes exemplares atuais alemães tal como “Edukators” e o oscarizado “A Vida dos outros”. A forma como a questão proposta em sala de aula se dissipa é assustadora, revelando a dimensão que um ideal pode adquirir.

O experimento vira fascismo
A prática propagada extrapola limites convertendo o experimento em fascismo. O laço social implantado na narrativa é questionado. “Por quem?” e “pelo que?” serão questões recorrentes ao público. Não será difícil se identificar aos vários personagens do filme, suas caracterizações felizmente não são tão estereotipadas, embora conte com os populares arquétipos. Diante a essa impregnada lógica outrora uma experiência educacional, o professor vê sua vida particular ser afetada com os alunos mais próximos e seu relacionamento conjugal ameaçado pela intolerância – Wegner é outro cegamente imerso a própria proposta.

Alguns poucos se viram contra "A Onda"
Ao mesmo tempo em que percebemos o avanço da “A Onda” entre as pessoas e o delírio impositivo que consome seus membros, vemos a discórdia de alguns menos afetados contrários ao poder iludido questionando sua propagação segregadora. Nesses momentos, valores ressaltam a crença de jovens em busca de alguma coisa que lhes façam real diferença. Vemos a costumeira e vil bebedeira entre adolescentes marcar sua geração. Na escola e fora dela, os grupos são híbridos, diagnosticando um impulso em comum entre as etnias. 

As atuações contribuem e reforçam a veracidade do longa, sobretudo no papel central. O professor é vivido pelo popular ator alemão Jürgen Vogel. Gansel transmite a sensação adolescente nos olhos daqueles que encontraram um bom motivo para viver. “A Onda” tornou-se a vida de alguns – afirmação presente em alguns discursos. A força da história se presa na relevância de um tema importantíssimo na história da civilização que emergiu numa sala de aula gradativamente. Este trabalho, encontrado em locadoras, é uma aula de arte e de cinema, cuja doutrina, para alguns distante e inacessível, está bem próxima, e não é difícil de despertar.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Cinema: o que vem por aí... (004)

Mark Wahlberg como “O Corvo”?

Mark Wahlberg está cotado para assumir o papel que outrora foi interpretado por Brandon Lee e posteriormente Mark Dacascos. Lee morreu durante as filmagens. A Relativity Media foi quem convidou o ator que ainda não se pronunciou. O Corvo é um personagem criado em 1989 por James O'Barr. Trata-se de um roqueiro morto brutalmente juntamente à namorada e, tempos depois, voltou para se vingar.

Adorava esse filme!!!

Alice Braga sempre


Anthony Hopkins terá uma parceria e tanto para seu nome filme, “The Rite”. E é uma mulher... e brasileiríssima!!! Alice Braga! Quanto ao filme? É sobre exorcismo. Baseado num livro de Matt Baglio, um estudante do vaticano com fé abalada se depara com forças demoníacas. A estréia será em fevereiro de 2011. O longa é dirigido por Mikael Hafstrom.


 Agora vai...

Darren Aronofsky assumiu a direção do novo filme do Wolverine! Agora a coisa vai ficar bem mais interessante com o herói, provavelmente, num filme bem mais complexo do que a bomba anterior. Escolheram um diretor que sabe das coisas...


Stallone vs De Niro

A dupla deve retornar a um filme de Boxe. Stallone, famoso por “Rocky”, e Robert De Niro que atuou em “Touro Indomável” devem reviver os tempos de luta em um longa que colocará os dois frente a frente num confronto após suas aposentadorias. O filme, intitulado “Grudge Match”, não tem nada confirmado ainda.


Bruce Willis não quer aposentar John McClane

Duro de Matar não vai ter somente uma quinta parte, mas também uma sexta!!! É o próprio Willis quem disse e que após terminar os filmes: “podem pensar em me substituir ou criar outro personagem para a série. Quero fazer mais dois filmes, até porque ainda me sinto bem para correr e lutar na tela. Mas chegará o tempo em que eu não vou querer nem poder fazer mais isso”. Para os fãs, um deleite.


Até!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Proseando sobre... Garota Fantástica


“Garota Fantástica” traz o “Roller Derby”, uma modalidade de patinação entre equipes feita em uma pista oval a qual as participantes num empurra empurra e usando táticas insólitas buscam vitórias e reconhecimento. Grandes duelos acontecerão nesse filme feminista, denunciando insatisfações cujos sonhos são desiludidos pelas exigências do cotidiano, bem como trabalhos, filhos, namorados entre outras obrigações. Nessas pistas, as várias mulheres da história gastam toda suas energias, encontrando nos torneios a oportunidade de serem vistas e reconhecidas por algo que façam bem. 

Ellen Page descobre uma vocação
O filme é despretensioso, não se concentra tão profundamente no drama de suas protagonistas, sendo sutil quando exalta a vida delas. O que é novidade aqui é quem está por trás das câmeras. Drew Barrymore assume a direção surpreendendo tal como Sarah Polley fez em “Longe Dela”, mas aqui num filme bem mais efêmero. “Garota Fantástica” diverte, conta com episódios da pós adolescência e se concentra numa personagem que vive sob o domínio das ambições da mãe, Brooke Cavendar (Marcia Gay Harden), que sonha em ver sua filha Bliss (Ellen Page) vencer concursos de beleza. O poder autoritário dessa mãe, bem representado pela imponência de Gay Harden inspirada, é evidente em suas inspeções que vitimam não só sua filha, mas também seu marido. 

Juliette Lewis é a grande adversária da protagonista
Já Bliss, vivendo amenamente sua passagem para a vida adulta, se esconde em seus 17 anos, trabalhando de garçonete num restaurante e aguentando investidas de caras querendo impressionar. O retrato dessa vida leviana se dá quando descobre o esporte, fazendo parte da equipe de patinação ocultando sua idade do time e a verdade de seus pais que em hipótese alguma aceitariam uma “princesa” numa batalha capaz de dimanar feios hematomas. A jornada da jovem é bem desenvolvida pelo roteiro de Shauna Cross que adapta seu próprio romance, acrescentando ingredientes como frustrações amorosas, sexualidade, amizades e desejos. 

Drew Barrymore além de dirigir, produz e atua
Bem fotografado e com algumas cenas movimentadíssimas, sobretudo durante as partidas do Roller Derby, o filme deverá empolgar mais as adolescentes que se identificarem com as dificuldades encontradas pela protagonista juntamente as amigas. Kristen Wiig vive Maggie Mayhem e cumpre o papel mais reflexivo da história enquanto Juliette Lewis assume uma antagonista predisposta a destruir os sonhos de Bliss com eficiência e com surpreendente hombridade. Barrymore não só dirige como produz e atua, identificando-se com a provável personagem mais divertida em toda a história. Já a canadense Ellen Page, destaque dos últimos anos por “Juno” e “Um Crime Americano”, mostra o porquê é uma das maiores promessas do cinema recente. Razoavelmente engraçado, mas singelo e sincero, “Garota Fantástica” é um longa correto e agradável de ver sem nenhum compromisso.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Por onde anda...

A legalmente loira Reese Witherspoon é uma delas. Porém, tem uma série de projetos para estrear em breve. Além de estampar a capa das revistas da Avon, Reese, que em 2009 emprestou a voz a personagem Susan de “Monstros vs. Alienígenas”, estará na comédia “How Do You Know” de James L. Brooks ao lado de Jack Nicholson . O projeto chega ao Brasil em Janeiro de 2011. Também estará em “Água Para Elefantes” e na animação “The Bear and The Bow” que irá estrear só em Dezembro de 2012. Há ainda “The Master”, filme que irá atuar junto a Philip Seymour Hoffman; e atualmente está filmando “This Means War” do diretor e produtor McG. Quanto trabalho em?!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Proseando sobre... Anjos Exterminadores



Apesar da ideia pouco usual, dirigida e escrita pelo cineasta Jean-Claude Brisseau, o francês “Anjos Exterminadores”, disponível em DVD em algumas locadoras, não vinga, não empolga, se revela frívolo e demasiado erótico. Não se esconde que seja um longa metragem de natureza sexual, – julga-se pelo cartaz com tom pornô siiiiiim, e cara de cinema, uma vez envolvendo uma produção mais requintada.

Tal erotismo não é exatamente um alvo de críticas, nem deveria, quando se desejava contar uma história sobre os prazeres da carne. O problema é se perder nesse meio, com o aparente prazer do próprio diretor tomando o espaço da narrativa pretendida, exibindo além da arte e formas corporais, sexo entre mulheres, transformando o espectador em voyeurs de sua perversão. Ou de seu exibicionismo cinematográfico propenso a agradar aqueles cujos hormônios estão em êxtase. Não descordo que talvez isso seja exagero.
 
O longa conta a história de um cineasta, François, (van den Driessche) que, ao filmar uma cena libidinosíssima entre suas protagonistas, percebe que o excesso pode funcionar. É testando limites que o protagonista se defronta com anjos caídos, os anjos exterminadores, buscando censurar a revelação amoral que despertara. Brisseau não excede sua narrativa com closes genitais, no entanto, não abre mão de explorar corpos nus e comportamentos sexuais. A inversão de papéis é o maior proveito em meio a esse desperdício, com François sendo ainda uma representação paterna dissipada.

O elenco se entrega e ninguém se destaca, tendo Frédéric van den Driessche perdendo o ritmo de seu personagem condensado e detido. A extravagância só não é mais abusada pela censura neste pequeno filme sobre sexo desmistificando a linha que divide o gratuito e o chamado artístico. Para quem gosta do primeiro, encontrará em “Anjos Exterminadores” um feroz exemplo de sacanagem com algum sentido. Jean-Claude Brisseau pode se orgulhar: fez mais uma de suas filmagens sexuais, mas considerar um grande filme sobre o assunto, seria encarecê-lo demais.

domingo, 17 de outubro de 2010

Proseando sobre... Tropa de Elite 2


Capitão Nascimento agora é Tenente Coronel
Não tem jeito. O capitão Nascimento – que agora é Tenente Coronel Nascimento – deixou de ser apenas um personagem do cinema para se tornar em definitivo um ícone da ficção nacional. Seus feitos tomaram uma dimensão tão grande que quando aparece em cena – enchendo a tela com o talento de Wagner Moura – é possível ouvir suspiros de seus fãs quando este diz alguma frase de efeito ou resolve algum problema com violência. “Tropa de Elite 2” vem surpreender. Se é tão bom ou melhor que o primeiro, é discutível. No entanto, tem elementos de sobra para sobressair-se e reverenciar-se como o melhor filme nacional da atualidade, e um dos grandes filmes do cinema do ano.  

Novas descobertas nesse segundo filme
A violência nessa segunda parte diminui o ritmo, dando espaço a uma nova discussão – a um novo inimigo – que, se não é uma novidade para o público ciente da política nacional e a corrupção envolvendo assustadora parte de seus membros, ressalta sua veiculação através de um roteiro astuto e facetado, lançando informações ao público, novamente auxiliado por uma narração em off do próprio Coronel Nascimento – igualmente ao primeiro filme – contando sobre as novas condições que está inserido 15 anos após aos acontecimentos do primeiro longa, quando ainda era do BOPE.

Logo depois de uma missão mal sucedida em Bangu I, Nascimento acabou destituído do BOPE pelo governo e logo promovido subsecretário de segurança do Rio de Janeiro – como o personagem diz, ele caiu para cima. É o cara que pensa as ações tendo contato com câmeras e escutas de toda a cidade. Nesse novo contexto, o então Tenente Coronel passa a ter uma visão que não só restrita aos embates nas favelas, – ele põe fim ao tráfico de drogas - mas descobre os caminhos que resultam nelas, reconhecendo um problema ainda mais severo em relação ao tráfico combatente, os grandes mandatários, as milícias formadas agregando policiais, políticos mais do que corruptos e a mídia. Para piorar, as eleições estão próximas e os envolvidos com ela atônitos.

Nascimento ao lado do filho, Rafael (Pedro Van Held)
Nascimento é o mesmo, tem toda a vitalidade imponente e o olhar cada vez mais descrente no final de cada dia. Igual a ele, André Matias (André Ramiro) se revela ríspido e crucial quando empunha uma arma e parte para uma nova missão, distribuindo tiros com uma expressão centrada e grave, abandonando aquele personagem que fizera no outro filme. O diretor José Padilha juntamente ao seu parceiro roteirista Bráulio Mantovani inserem um ideal nessa perspectiva fundamentada dos caveiras de irem a campo e resolverem sem demora os assuntos mesmo custando sangue: os direitos humanos. E parece piada que, o representante desses direitos, o ativista deputado Fraga (Irandhir Santos), oponente a regra do BOPE, ainda é o novo marido da ex esposa do Tenente Coronel. As relações que já eram estreitas inflamam e hostilizam.

José Padilha cria um filme inteligente e sóbrio a respeito da política e dos crimes envolvendo-as. Ainda que beire a um pragmatismo a cerca da resolução com violência, “Tropa de Elite 2” mostra o outro lado, com política podendo ser resolvida com política – e a fineza de como isso chega ao público atordoa pela linguagem rudimentada fazendo o espectador pensar e se interessar por um país melhor. E claro, não faltarão cenas antológicas, sobretudo protagonizadas por Wagner Moura que é um monstro atuando, fazendo recordar bordões que o primeiro filme deixou como herança. É um filme para todos os gostos, necessário em sua proclamação mesmo carente de resoluções, onde um fio de esperança flerta com sacrifícios e toque em feridas apenas para provocar (o que é uma façanha grandiosa) – e vendo vidas inocentes serem tiradas, tais feitos não irão parecer tão absurdos, mas necessários e impugnados pela honra e boa vontade de um país próximo de escolher seu novo presidente.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Proseando sobre... A Lenda dos Guardiões


A inveja, tema amplamente discutido na literatura e no cinema, é novamente retratada nessa nova animação infanto juvenil que tem ao seu lado a tecnologia 3D. E com ela, o diretor Zack Snyder concebe uma animação pra lá de fascinante. “A Lenda dos Guardiões” é o novo trabalho do diretor amante de grandes batalhas (é ele o responsável por “300”) trazendo dessa vez corujas guerreiras em conflitos épicos – com violência maquiada – na tentativa de agradar as crianças com uma bela fábula sobre as aves e os adultos com a ação radicada apoiada por um apelo visual ilustre. Baseado numa série de livros infantis de Kathryn Lasky, o filme trata de uma família de corujas com dois irmãos, Soren e Kludd, aprendendo o passo a passo de como voar. É numa escapada às escondidas dos pais que eles irão despencar de uma árvore direto ao chão, lugar ameaçador onde rondam os predadores em potencial a espreita por alguma presa. Perdidos e com medo, a dupla vê o perigo se aproximar até quando outras duas corujas maiores chegam para salva-los, mas, ao contrário do que pensavam, não estão sendo levados de volta pra casa.

Snyder aposta numa trama que coloca dois irmãos frente a frente, como uma versão de Caim e Abel entre aves de rapina, onde a inveja parte de Kludd, não aceitando a habilidade do mais novo, Soren, que é encantado pelas histórias de seu pai sobre uns tais de Guardiões de Ga’Hoole, os quais no passado lutaram pela liberdade de todas as corujas. A história é uma aspiração para Soren que repetidas vezes recita para a irmã mais nova estes contos, deixando-a igualmente seduzida pelo heroísmo desses lendários guerreiros. Soren não esconde sua crença quanto a real existência dos guardiões e seu sonho de um dia fazer parte deles.

A história, simples em sua composição, escrita pela dupla de roteiristas John Orloff e Emil Stern, não apresenta grandes surpresas, nem parece destinada a crianças, e se a obra não conseguir agradar esse público, talvez morra sem o apreço que merece. “A Lenda dos Guardiões” explora um universo mais profundo, onde o humor empregado é limitado, funcionando com o público adulto; e os personagens, alguns realmente assustadores e outros delicados – dariam belos ursos de pelúcia – encantam pela sutileza de seus desenhos extraordinários. A direção de arte assombra e os realizadores entregam personagens primorosos feitos em computação gráfica, quase verdadeiros de tão realistas.   

Na telona, o filme é um esplendor técnico visualmente capaz de emocionar sem textos. A história, por outro lado, bate no conflito entre os irmãos com aquele que se contrapõe ao outro e ainda se mostra capaz de sacrifícios em pró individual, ou de um grupo, os denominados “puros”. Permanece a questão da traição e do suborno, do que na verdade tem valor e o preço de cada escolha que fazemos. O heroísmo é compartilhado por alguns recrutas – incluindo uma cobra – e o diferencial é a idealização do que consideramos inspiração ou motivação. Ezylryb é um mestre franco que coloca a verdade sobre a guerra reconhecendo seu malefício, apesar de sua consagração. Cativante e movimentado, promete deixar o espectador atento e deslumbrado com sua arte. 


quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Proseando sobre... O Fim da Escuridão

 
O retorno de Mel Gibson ao protagonismo prova que seu talento enquanto ator, ao longo desses vários anos fora das telonas, não se perdeu. Seu papel neste “O Fim da Escuridão” é um convite ao estilo que mais seduz Gibson, a vingança.

E se em muitos de seus trabalhos anteriores este ato se revela um extravasamento de seu deleite somando ainda cenas de violência chocantes nesta sua nova empreitada, realizada pelo veterano neozelandês Martin Campbell, responsável por dois filmes do 007 (“Contra GoldenEye” e “Cassino Royale”) o ator pode arcar com cenas cruas de violência sem muitas inibições e lágrimas. O espaço para lamentações de um longa com potencial dramático encurta sentimentalismo para propor uma ação instável, enigmática, partindo de um contexto que envolve mistérios de uma corporação relacionada a altos cargos políticos no governo norte americano.
Bojana Novakovic vive a filha de Gibson
O roteiro baseado numa série dirigida pelo próprio Campbell procura explorar com seriedade a ambição do personagem Craven em descobrir os responsáveis pelo assassinato de sua filha, Emma (Bojana Novakovic). A sequência inicial é bastante breve, apresentando o relacionamento entre pai e filha, sugestionando a ansiedade de Craven pretendendo se reaproximar da moça. Apesar dos esforços, a jovem se mantém na defensiva, procurando coragem para dizer algo ao pai a respeito de sua aparência enferma.
Gibson quer vingança
A apresentação dos personagens é bastante eficaz, com pequenos gestos dizendo muito mais sobre suas personalidades do que seus comportamentos. Em especial, o personagem de Gibson, Craven, é quase incapaz de dar algum sorriso, esconde sua arma e distintivo na cozinha, facilitando chamadas urgenciais. Já Ray Winstone vive Jedburgh, uma incógnita aos espectadores, incompreensível em suas ações, que acaba por ganhar a simpatia do público por sua sutileza mórbida e obscura.

Em meio a um emaranhado de dúvidas, suas soluções arrematam uma crítica justa à política e seus vícios de poder. A direção artística assombra logo no início com a imagem da lua refletida na água iluminando corpos boiando à deriva. O filme não deixa de buscar inspirações metafísicas, com Mel Gibson interagindo com o espírito da filha em vários momentos do longa, tendo seu ápice no ato em que um corredor se transforma numa passagem para o paraíso, parecidíssimo a cena final do ótimo “Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto”. Arrebatador e assustador, este “O fim da escuridão” não apela para o absurdo, mas levanta hipóteses questionáveis sobre sanidade e espiritismo, com Mel Gibson em forma voltando estar a frente de um projeto desempenhando um grande papel como há muito não fazia.