terça-feira, 30 de novembro de 2010

Proseando sobre... Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme


O cineasta Oliver Stone decidiu desenterrar um de seus grandes sucessos, “Wall Street”, e trouxe às telonas nesse ano uma continuação daquele filme de 1987 que rendeu o Oscar a Michael Douglas por seu papel como Gordon Gekko. Douglas está de volta apadrinhando dessa vez Jacob Moore, vivido pelo garoto sensação Shia LaBeouf. O filme parte 8 anos após a prisão de Gekko que, numa tomada inicial, é apresentado recolhendo alguns pertences e saindo de vez da prisão. Do lado de fora ninguém o espera. O tempo passou – e tempo é a única coisa maior que o dinheiro segundo o próprio personagem. Tem início o retorno desse homem a sociedade, ainda lembrado pelos poderosos de Wall Street. Atrás de compensações, escreve um best seller e dá palestras para jovens investidores.

Gekko encontra Jacob em uma dessas palestras e logo descobre que trata-se do noivo de sua filha Winnie (vivida pela encantadora Carey Mulligan). Descobre também o talento desse rapaz se reconhecendo em suas ambições e fineza gananciosa. Há uma inferência nas intenções de ambos: Gordon Gekko quer resgatar o amor de sua filha que o culpa pelo suicídio do irmão; Jacob Moore deseja vingar a morte de seu mentor e responsabiliza o multimilionário Bretton James (Josh Brolin). Os dois negociam a troca das habilidades do personagem de Douglas pelo perdão de Winnie.

Acompanhar a jornada desses empreendedores não é uma tarefa fácil para os espectadores leigos a respeito das finanças norte americanas e o movimentado mercado de ações, deixando o assunto muitas vezes confuso ao fazer uso de termos técnicos específicos de seus envolvidos. Oliver Stone explora a correria da bolsa de valores e sua mutação alarmante, recordando o episódio da crise de 1929. A agilidade do roteiro escrito pela dupla Allan Loeb e Stephen Schiff até dribla a falta de clareza dos argumentos, mas não consegue desembaraçar o tema naturalmente complexo. Ao longo de seus 130 minutos, há manejos de câmeras específicas do diretor e efeitos que atraem a atenção do público – alguns são claras metáforas inspiradas a respeito do boooom que está para acontecer. Nesse ponto, Stone celebra um feito criativo, apesar de cenas que deprimem o ritmo dinâmico ascendente.

A estrutura dramática envolve ainda a relação conturbada do casal central tratando Winnie e seu relacionamento com um homem semelhante ao pai que abomina. Mulligan tem seu talento desperdiçado pelo roteiro que abusa das lágrimas da moça. Mas as atenções são mesmo voltadas para Michael Douglas, dono de um papel icônico, esbanjando confiança ao reencarnar Gordon Gekko e torna seu personagem o maior crédito de “Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme”. Quem já o conhecia do longa de 87, olha-o desconfiado, quase incapaz de acreditar nas novas intenções desse homem mudado graças ao tempo que ficou preso. Algumas cenas são exímias ao explorar o desenvolvimento do personagem, sempre chamando a atenção quando em cena. Se o filme flerta com episódios atuais dos Estados Unidos e a crise recente mundial, também recorda do passado do país e a história da humanidade, questionando o homem, o que esse é capaz e o que a avareza pode fazer com ele. Nesse atributo narrativo, o longa encontra seu grande triunfo.  


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Proseando sobre... Encontro Explosivo


 Tom Cruise não está esquecido. Cameron Diaz também não. Também não vivem seus melhores tempos em Hollywood, mas ainda mantém fãs com seus carismas, e conseguem lotar salas de cinema graças a suas histórias dentro da sétima arte. Ganharam o status de atores populares. Uma vez envolvidos juntos numa produção de alto orçamento, o retorno aos cofres dos produtores é praticamente garantido. Desta forma, um cartaz que traz a dupla sobre uma moto numa aparente cena de ação é atrativa tanto para homens quanto para mulheres. O trailer surge ainda como reforçador. Se há o galã em poses másculas e tiradas com uma personagem feminina de índole sensível, há também muita adrenalina garantindo, ao menos, atenção com seu agitado e propagado entretenimento. 

Há uma moda nova permeando alguns projetos Hollywoodianos: colocar casais em aventura juntos. Neste “Encontro Explosivo” a dupla vive algo semelhante a “Sr. e Sra Smith” sem a persona de Jolie. Se aproxima bastante da comédia recente “Par Perfeito” que traz Katherine Heigl como estrela sem inspiração. Arriscaria dizer que desde “Assassinos por Natureza” o cinema não encontrou um casal tão interessante como foi Mickey e Mallory Knox. Um casal capaz de carregar um filme juntos sem perder a altivez. Ok, não dá pra esperar tanto e expectativa nesse ponto é desnecessária. Quanto a esse projeto, a mocinha vivida por Diaz faz o tipo bobinha e não manja nada de armas. Ela exerce uma função bastante importante na trama sem desconfiar: é ela quem viabiliza a entrada do personagem de Cruise em um vôo de onde o desenrolar da história irá iniciar. 

Tiros, saltos, viagens, lutas, situações extremas, perigo, romance e piadas. É tudo isso que “Encontro Explosivo”, filme do diretor James Mangold (“Identidade”), proporciona. Ele capricha nas cenas exigentes de movimentos rápidos e tem auxílio de efeitos especiais que não são tão impressionantes. A grande leva de filmes do gênero atuais recheados de tecnologia de ponta sofrem com a falta de novidade. A história também não é lá das mais entusiasmantes – pelo menos é divertida. Se o filme finda compromisso com diversão enquanto entretenimento puro – puríssimo em sua limitação – ele vence, principalmente pelas sacadas do personagem Roy Miller (Cruise) com gags e humor negro bem realizado. Já June Havens (Diaz) assume a pose de boa garota sonhadora e que, para surpreender, diante sua postura estigmatizada, é perita em mecânica. O universo o qual o espectador se insere é um lugar já bastante visitado e explorado tornando o filme numa experiência comum, não tratando de imitação de outros longas, – é bom frisar – mas é homogêneo a tantos outros.     


sábado, 27 de novembro de 2010

Proseando sobre... Esquadrão Classe A



Uma dos grandes trunfos para um filme funcionar é a química entre os atores. Nesse “Esquadrão Classe A”, há 4 homens que fazem o filme valer o ingresso, ou no caso, a locação. Chegou recentemente nas locadoras. Baseado numa série de TV de bastante sucesso, este projeto do bom diretor Joe Carnahan (“Narc”) consegue fazer proezas com um roteiro fraco e bagunçado, tudo porque conta com personagens interessantíssimos, engraçados e heróicos, no ponto de promover recreação em meio à ação ininterrupta que se delonga dos primeiros minutos ao fim da projeção. É o bastante para não condena-lo ao esquecimento, viabilizando o surgimento de uma nova franquia vencedora pelo carisma. Há uma moda referente a filmes de ação que se apóiam no bom humor. Diante tantos, esse trabalho com certeza se sobressai.

Carnahan, costumeiramente envolvido em projetos policiais, assume a direção e demonstra habilidade na condução de uma história movimentada, cheia de sacadas e bom humor. Na orientação aos atores, demonstra autoridade, e tira deles muita energia que infla e movimenta o filme – o roteiro deixa de importar. A história conta sobre um grupo militar renegado envolvido em missões sigilosas. Vários anos passam com os quatro desenvolvendo técnicas de combate das mais inusitadas, independentes de aparatos militares, mas utilizando criatividade, coragem e brio para enfrentar as táticas pensadas por Hannibal (Liam Neeson), o líder.

Não é preciso dizer que uma missão dá errado trazendo conseqüências à carreira dos quatro. Aí, as coisas mudam. De referências militares passam a ser criminosos perseguidos pelos Estados Unidos. O esquadrão perfeito se vê em combate por um outro ideal: a prova de sua inocência. O grupo, encabeçado por Hannibal, conta ainda com o engraçadíssimo Cara de Pau vivido pelo talentoso Bradley Cooper; o insensato Murdock (Sharlto Copley) e o bom de briga B.A. Baracus (bem atuado pelo lutador profissional Quinton Jackson). Ainda há a beleza de Jessica Biel desorientando os heróis e Patrick Wilson contido no antagonismo.

Com certa elegância, o filme atinge seu grande público levando até eles o que exatamente querem: entretenimento puro sem compromisso. Nesse ponto, o filme acerta e convence com flertes, tiros, explosões; mas há quem procure algo ainda melhor, mais profundo, contando que se trata de um longa potencialmente capaz de exprimir algo inteligivel e aí, falha. Longe de tanta pretensão, o filme nunca desejou ser eternizado, – olhem, já fora no passado –   no entanto, alguns de seus personagens deverão ser lembrados por essa geração dominada pelos populares blockbusters. De um bom tela quente deve se tornar um clássico da sessão da tarde.
  

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Proseando sobre... Brilho de uma Paixão


Quisera fosse inabalável como tu és
Nem diante do solitário esplendor protelarias a noite
E observando com eterna indiferença
Como paciente da natureza, o insome eremita
O movimento das águas na sua religiosa tarefa
De purificar os confins dos mares, toldados pelos homens
Ou fixar-se sob a máscara suavemente caída
No cume das montanhas e da terra infértil
Não, mas ainda anabalável
Ainda imutável
Repousaria sobre o seio maduro do meu justo amor
Para sentir para sempre
A sua macia imensidão 
E despertar para sempre
Em uma doce inquietude
Ainda, ainda a ouvir o seu suave respirar
E assim, vive-se para sempre ou agoniza-se até a morte.
John Keats - 1795-1821


John Keats foi um poeta romântico inglês reconhecido por influenciar postumamente outros importantes poetas. É sobre ele que o novo filme da cineasta Jane Campion trata ao retratar a íntima relação construída entre ele e sua vizinha, uma austera estudante que vive em plenos conflitos com  Charles Brown, parceiro de Keats. O relacionamento gradual habita na interação cada vez mais próxima do casal, incitada pela oferta de cuidado da jovem Fanny Brawne que procura ajudar o irmão do poeta. O que era amizade se estreita com John agora ensinando poesia para a garota entregue a tarefa da literatura de seu mentor.

Em “Brilho de uma Paixão” somos levados para Londres em 1818, época cuidadosamente montada em cena por Campion, usando de recursos técnicos para compor um século distante. O figurino de seus personagens e a direção artística rebuscada amplia a aproximação nossa do que foi o período romântico inglês com suas particularidades artísticas e físicas. A narrativa também contribui com exploração do contexto, inserindo nele elementos proeminentes da geração, sobretudo ao exaltar características, como doenças da época condenáveis. O sentimentalismo toma conta nessa história dramática, pessimista e saliente do amor inacessível.

John Keats é vivido pelo ator inglês Ben Whishaw no que provavelmente seja uma das mais notáveis atuações de sua carreira. Não conhece o cara? Ele é o protagonista de “Perfume - A História de um Assassino”. Seu par romântico é a australiana Abbie Cornish que trabalhou com Heath Ledger em “Candy”. Os dois são conduzidos com competência considerável por Campion – as trocas de olhares e as tímidas aproximações são delineadas com sensibilidade marcante. O filme é cheio disso, também seria indigno se não fosse por ser de natureza poética e uma homenagem a uma figura importante da cultura inglesa.

A seu favor, Jane Campion tem a beleza paisagística da Inglaterra pré-vitoriana fazendo contraste ao charme natural da época com a poesia posta em tela, realçando um amor proibido. A proibição aqui acontece pela impossibilidade de Keats bancar um dote para Fanny uma vez que o poeta está começando a ter sua obra publicada, no entanto ainda é desconhecido e vive em crise financeira. Ao lado de Whishaw, o ator Paul Schneider traz um escárnio por vezes cômico a Charles Brown. Nesse conjunto, o que acaba sendo o grande destaque é o retorno de Campion ao cinema desde seu último e criticado trabalho “Em Carne Viva” de 2003. A diretora que concorreu a Palma de Ouro novamente, feito que não repetia desde sua vitória em 1993 pelo ótimo “O Piano”. Com “Brilho de uma Paixão” ela prova que está em plena forma e tem muito o que fazer pelo cinema.


domingo, 21 de novembro de 2010

Black Swan é mais do que uma aposta!

Nina (Portman) é uma bailarina de uma companhia de balé de Nova York, cuja vida, como todos aqueles em sua profissão, é completamente consumida com a dança. Ela vive com sua mãe obsessiva, a ex-bailarina Erica (Hershey), que exerce um controle sufocante sobre ela. Quando o diretor artístico Thomas Leroy (Cassel) decide substituir sua prima ballerina Beth MacIntyre (Ryder) para a produção de abertura de sua nova temporada, ‘O Lago dos Cisnes’, Nina é a sua primeira escolha. Mas Nina tem concorrência: a nova dançarina, Lily (Kunis), que impressiona Leroy também. O Lago dos Cisnes exige uma dançarina que possa interpretar tanto o Cisne Branco com inocência e graça, quanto o Cisne Negro, que representa a malícia e sensualidade. Nina se encaixa no papel Cisne Branco perfeitamente, mas Lily é a personificação do Cisne Negro. A medida que as duas jovens bailarinas escondem sua rivalidade com uma amizade falsa, Nina começa a ficar mais em contato com seu lado escuro – uma imprudência que ameaça destruí-la.

O elenco ainda conta com Vincent Cassel (“À Deriva”), Mila Kunis (“O Livro de Eli“), Winona Ryder (“S1m0ne”) e Barbara Hershey (“Um Dia de Fúria”). O roteiro é do pouco conhecido Mark Heyman e do estreante Andres Heinz.
Fonte: cinemacomrapadura

Quem me conhece, sabe o quanto sou fã de Darren Aronofsky e que o considero um dos grandes diretores da atualidade, senão o maior. Criativo e dinâmico, concebeu jovem a obra prima “Réquiem para um Sonho” e fez outros trabalhos grandiosos como “Pi” e “O Lutador”. É o cara... um cara que vai entrar no mundo dos blockbusters com “Wolverine”. Resta a torcida! Seu próximo trabalho é esse “Black Swan” e um dos prováveis grandes filmes prestes a sair nas telonas. É minha aposta!

Segue cartazes e trailer


Quer assistir o trailer? Clique aqui




sábado, 20 de novembro de 2010

Proseando sobre... O Preço da Traição


Amanda Seyfried vem se destacando em Hollywood. A atriz de 24 anos, neste ano, tem aparecido muito no cinema em vários trabalhos assumindo o protagonismo. Em “O Preço da Traição”, refilmagem americana do original francês “Nathalie X”, estrelado pela dupla Emmanuelle Béart e Fanny Ardant, a atriz vive Chloe. Ela é uma jovem acompanhante contratada por Catherine Stewart para seguir seu marido David, uma vez que está desconfiada de sua fidelidade graças a um atraso numa festa surpresa, seguida por uma mensagem comprometedora no celular.

A desconfiança dos espectadores quanto às atitudes de Chloe irá conduzir uma trama cheia de segredos que abusa da sensualidade de suas protagonistas (Seyfried e Julianne Moore), em cenas quentes que envolvem as duas mulheres. Em outra instância, David, vivido pelo inconstante Liam Neeson, é uma incógnita fortificada pelo roteiro misterioso de Erin Cressida Wilson que camufla artifícios enganosos prevendo confusão e dúvidas do público.

Neeson é o alvo. Seu personagem ressalta uma autoridade enquanto um professor universitário admirável, e combinado a sua estima pelos alunos, especialmente por algumas alunas, acaba por confirmar as razões das suspeitas de sua mulher – quase condenado em uma cena idealizada por Chloe. As relações entre os personagens ganham ênfase na curiosidade e na submissão: em um primeiro momento, o julgamento de Catherine, que percebe David distante fortalecendo sua paranoia; num segundo, sua ligação surpreendente com a ninfeta, revelando um desejo reprimido e inutilmente censurado quando se entrega as investidas da loira.

O diretor egípcio Atom Egoyan foi o responsável por essa refilmagem americana, que fatalmente se entregou a maneirismos hollywoodianos com finais espantosos, verdadeiros disparates. A cena final é um culto ao exagero que impressiona. Por sua vez, Egoyan ao menos conduz com sabedoria os atos de Chloe cujas ações enigmáticas fazem dela intimamente inacessível. Seyfried transmite tanto inocência quanto frieza, e em sua psicopatia, seduz irresistivelmente. A atriz se encarrega de transformar o filme de um drama casual num envolvente thriller cheio de detalhes, embora a previsibilidade exploda já no segundo ato da projeção, tornando-o maior do que realmente é. Apostando no talento de Amanda Seyfried, aqui provocante e desinibida, os realizadores firmam uma narrativa que agrada e evidencia uma atriz com um futuro promissor.

    

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Proseando sobre... Salt


Angelina Jolie revive uma efígie em “Salt” que anos atrás lhe fez alcançar sucesso mundial: uma heroína armada e letal. A atriz que deu vida a Lara Croft em “Tomb Raider”, fez par com seu marido Brad Pitt no bagunçado “Sr. e Sra. Smith” e participou do exagerado “O Procurado” com tatuagens e sensualidade, vive agora uma espiã treinada pela ex União Soviética infiltrada na CIA em solo norte americano. Quando requisitada para entrevistar um russo preso recentemente, este revela – dando um susto em todos – que a entrevistada nada mais é do que uma espiã. A partir disso, Evelyn Salt terá de correr contra o tempo e usar de todas as suas habilidades – e olha que são muitas – para fugir de seus próprios parceiros e defender seu marido.

A direção a cargo de Phillip Noyce que já havia trabalhado com Jolie no bom “O Colecionador de Ossos” é burocrática e pouco ousada no desenvolvimento de sua trama, escrita por Kurt Wimmer de “Equilibrium” e “O Novato”, portanto, seu frisson narrativo é brilhante e as sequências de ação são mais do que empolgantes. O projeto tem claras pretensões de alavancar uma nova franquia, buscando ações inovadoras e de criatividade mutua, desde a coreografias até as baladas musicais enérgicas de James Newton Howard. Dividindo as atenções com a protagonista, o californiano branquelo Liev Schreiber some quando ao lado de Jolie, enquanto Chiwetel Ejiofor, ignorado pelo roteiro, dá um tom de curiosidade e tendencioso a um policial perseguidor implacável. 

Com o filme nas costas, como em outros projetos passados, Jolie vigora uma astúcia sexy a sua personagem precisamente cruel quando derruba filas de homens perseguidores. Passando de loira a morena, a atriz irá acelerar os batimentos cardíacos de seus apreciadores em tomadas simples transformadas em fetiche voyeur e isso não torna o filme superficial e sim, assustadoramente original, apesar da inexorável destreza de sua protagonista, ela garante um charme que faz de “Salt” sedutoramente perigosa. Também pudera, num ato final, um estrangulamento nunca foi tão atraente.  

sábado, 13 de novembro de 2010

Proseando sobre... Jogos Mortais – O Final


A sociedade do espetáculo é representada em uma cena inicial quando 3 jovens estão presos numa armadilha em público numa praça lotada atraindo a atenção da multidão que se aglomera. Poucos se esforçam para tirá-los dali, a maioria saca o celular para filmar a cena. Ainda há a exposição da vida íntima do trio que discute sobre suas relações. Nada distante, estamos nós, os espectadores, acompanhando a atrocidade na tela. A reação da platéia diverge... às vezes assusta. É o início do fim!

Continuações, continuações e continuações. O lucro movimenta o cinema e impede que algumas franquias tenham finais dignos de seu sucesso; muitas vezes acontece do filme começar a ser esquecido, pouco levado a sério e aí os realizadores decidem que é hora de parar. Tarde demais. "Jogos Mortais - O Final" é o atual caso desse fim. Fim que já era previsível desde seu segundo filme. Assim, a espera de novidades se transforma em frustração. Não atende o sucesso do aclamado início da franquia, termina nada inventivo e se trata, em mais da metade da projeção, apenas de um projeto reciclado cujas tentativas de impressionar envergonham e se comprometem em suas pretensões. A mutilação, tão recorrente na franquia entre os personagens dos setes filmes, acaba se virando contra sua própria idéia e Jigsaw, personagem que tornou-se referência em thrillers recentes devido seus ideais impostos, acaba definitivamente banalizado. Jogos Mortais, portanto, e por fim, acaba infeliz e morrerá como piada sádica de entretenimento popular, e não como um autêntico longa de horror igual uma vez foi. Um insulto aos seus fãs.

Ninguém esqueceu do Dr. Lawrence Gordon (Cary Elwes), aquele mesmo que serrou a perna no primeiro longa. Ele retorna. Isso não é um spoiler. Agora as coisas que anteriormente – maquiadamente – estavam fazendo sentido, ganham um novo aliado com explicações boçais. A trama desse “O Final” encontra os sobreviventes das armadilhas de Jigsaw, todos relatando seus traumas em sessões de terapia em grupo com Bobby Dagen (Sean Patrick Flanery de "Santos Justiceiros"), outro sobrevivente que ganhou fama após escrever um livro biográfico sobre sua experiência de quase morte. Ele leva as cicatrizes no peito motivando os outros a encararem suas marcas como orgulho de terem vencido a morte, e não vergonha. Por cima dessa premissa, e ainda com a presença do policial very bad Mark Hoffman (Costas Mandylor) e de Jill Tuck (Betsy Russell) das histórias antecedentes, o filme se desenvolverá transitando entre novos segredos - com criatividade em queda livre. Ah, as tripas, sangue e pedaços de carne humana estão presentes e saltando nos nossos olhos na versão 3D.

O diretor Kevin Greutert (“Jogos Mortais 6”) não adiciona nada de diferente, embora faça uso da tridimensionalidade em alguns momentos de maneira bastante feliz, garantindo razoável diversão. Os fãs do jogos mortais de Jigsaw irão novamente acompanhar o que já é praxe da história, com o assassino protagonista John Kramer (Tobin Bell) em novas tomadas dando lições aos que julga – e isso que outrora era a essência provocadora e por vezes questionável da trama, transformou-se em moralismo relés cujo valor ficou de lado dando todo o espaço para pesadas cenas de violência capazes de fazer alguns suspirarem no cinema diante manentes desastres. Os cinesádicos terão fartura nesse ponto. E o que essa franquia tornou-se senão entretenimento aos apreciadores de carne estropiada e em decomposição? Falsamente hábil, – um ultraje à inteligência – o filme engana com um roteiro efêmero e recheado de detalhes. Ao passo que o cinema encontra vítimas na platéia cujos alvos são as carteiras, sequências como as de“Jogos Mortais” irão aparecer e constantemente se amparar na curiosidade transgressora indecente. 

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Proseando sobre... Kick-Ass – Quebrando Tudo


Kick-Ass, herói nerd
“Kick-Ass – Quebrando Tudo” é diferente, irresponsável, exagerado e abusado. Todas essas características servem para definir sua diferenciação quanto à tradição e o metrificado cinema Hollywoodiano; e quão ousada uma produção de gosto discutível pode se arriscar a ser. Com a corda no pescoço, o diretor Matthew Vaughn, enfrentando várias recusas das produtoras norte-americanas, decidiu bancar seu filme e concebê-lo do seu jeito, de maneira que fizesse todo o sentido a graphic novel de Mark Millar a qual a história foi baseada. Descompromissado com padrões populares, sinal de que felizmente em Hollywood há ainda quem não se vende, Vaughn cria um dos melhores filmes do ano. 

Criativo em seu ponto de vista narrativo, hilário na concepção de seus personagens e nada recatado quanto às funções estabelecidas a eles, “Kick-Ass” chuta o balde e paira no universo nerd centrando nos interesses de 3 amigos: mulheres, tecnologia, HQ's e super heróis. Filosofando sobre a possibilidade de serem reconhecidos por grandes feitos, o trio discute características de heróis fictícios, questionando a chance de assumirem as responsabilidades tal quanto eles. Para isso, o jovem Dave Lizewski (Aaron Johnson) decide tomar alguma atitude e se aproximar daqueles que sempre acompanhou nas revistas e nos cinemas. Compra uma fantasia verde pela internet e inspirado por aspirações heróicas, vai para as ruas em busca de situações que exijam sua intervenção. 

Big Daddy e Hit-Girl em ação
Adotando o codinome Kick-ass, Dave cai na real após levar uma surra que lhe rende fraturas e hematomas. Seu fracasso reflete sua história no cotidiano onde é invisível para as mulheres, em especial para Katie, a musa de seus sonhos. Após sair do hospital, fica isento de dores pela reconstituição de alguns membros e novamente se aventura, apesar do recente fiasco, a ser um super herói. Predestinado a se dar mal, o jovem também não tem lá grandes esperanças de chamar a atenção de Katie (Lyndsy Fonseca) e reforçado pelos amigos, assume uma segunda farsa visando à oportunidade de aproximação da garota: ser gay. Não é ingênuo por parte de seu diretor travestir sua história imaginativa numa composição da cobiça envolvida na mente de um jovem. A fantasia é elegantemente empregada, com cores fortes evocando uma graphic novel no longa, mérito da fotografia de Bem Davis, constituindo uma experiência visual fascinantemente absurda, e singular na concepção de um projeto original e bem representado. A trilha sonora também soma e empolga. 

Hit-Girl ( Chloe Moretz) é a melhor personagem da história
Nicolas Cage, um declarado apreciador de histórias em quadrinhos, vive no filme um pai otimista com um plano de vingança envolvendo sua filha Mindy. (Chloe Moretz). Ele é Damon Macready, o Big Daddy, que treina a pequenina garota com arsenal militar e tiros à queima-roupa. Já Mark Strong, novamente encarnando um vilão, corrobora seus últimos papéis na telona. Diante outros e ótimos personagens, o longa resulta numa personagem em especial que não economiza nos palavrões, conhece tudo sobre armas e é capaz de derrubar filas de homens armados atirando em suas cabeças e os cortando em pedaços. Hit-Girl rouba as cenas com seu carisma de menina, inocência escondida por trás de uma máscara, nunca se intimidando com violência. Ela toca o terror e se transforma, de longe, na mais notável personagem da história e uma das mais interessantes de se acompanhar no cinema recente. Quem espera encontrar entretenimento barato em “Kick-Ass” terá uma agradável surpresa!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Proseando sobre... Por uma vida melhor


Sam Mendes é notável. O cara que tem no currículo “Beleza Americana”, “Estrada para a perdição”, “Soldado Anônimo” e “Foi Apenas um Sonho” merece sempre atenção. Mas, atenção é algo que neste ano ele não recebeu das distribuidoras brasileiras. Seu novo filme, o simpático e sincero “Por uma vida melhor” foi lançado diretamente em DVD. Um descaso. É verdade que está longe de ser um dos seus melhores filmes, mas tem força o bastante para ser querido por algum público, principalmente a galera que está enfrentando a primeira gestação. Há muito para se identificar.

Pra falar de um tema sério tem que ter responsabilidade - há milhares assistindo - e falar seriamente com pitadas de bom humor é para poucos. Sam Mendes consegue, constituindo uma nova comédia dramática envolvida com road movies, contando a história de um casal com mais de 30 anos prestes a ter o primeiro filho. Encontrando dificuldades financeiras e preocupados com o futuro, resolvem pegar estrada e conhecer vários cantos dos Estados Unidos, visitando amigos e parentes, pretendendo encontrar o lugar ideal para sua criança crescer. Condensado pelas perspectivas bem intencionadas do pai, Burt, que procura tocar a novidade com bom humor; e com o caráter ríspido e mal humorado de Verona, sofrendo com dores, o filme apresenta uma jornada dupla (ou tripla) com leveza encontrando as situações mais estranhas. 

Maggie Gyllenhaal é uma das caras famosas do filme
As tomadas de Mendes sempre buscando a ternura de seus protagonistas frente ao futuro que lhes aguarda conta ainda com Bob Dylan na trilha sonora. O existencialismo entra em ação com suavidade uma vez que, o casal a procura de um lugar para eles, e em busca de um modelo de família que corresponda as suas expectativas, convivem com a insegurança de qual a coisa certa a se fazer. Longe de terem famílias que sirvam de modelo – somente Burt tem pais, mas esses estão a caminho da Bélgica – a dupla põe o pé na estrada buscando seu destino. Nesse percurso, irão encontrar as mais inusitadas figuras. Com um elenco de apoio competente encabeçado por Jeff Daniels, Maggie Gyllenhaal e Catherine O'Hara, o filme apresenta um casal adorável, representando com alento suas novas condições graças à química de Maya Rudolph e John Krasinski em pleno estado de graça.