quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Proseando sobre... De Pernas pro Ar



Fãs de Ingrid Guimarães e de comédias despretensiosas irão se fartar. “De Pernas Pro Ar” é sim divertido como parece. Cumpre a sua promessa de recreação levando ideais da mulher moderna representada por uma trabalhadora, vítima do workaholic, não dando atenção necessária ao filho e ao marido. Em outros tempos, a personalidade masculina era o alvo dessa crítica. Os tempos são outros e o filme, dirigido por Roberto Santucci, retrata de uma maneira descolada esse drama de uma família aparentemente perfeita se desmanchando graças à indiferença de uma mãe dedicada ao trabalho, cada vez mais distante do marido e do filho. Quem está mais próxima do garoto, e de alguma forma exerce uma função materna, é a empregada doméstica, tida como de confiança pela família. É uma espécie de muleta para a protagonista.

Faz-se pensar na história da mulher, qual era seu papel antigamente e o que conquistara hoje. Suas responsabilidades se converteram e ideais sociais se remodelaram – o cinema e a literatura há anos já vem trazendo indícios dessa mudança. As conseqüências vem sendo exploradas. Para explanar, é possível fazer uma ponte com a lógica propagada em De Pernas Pro Ar” com o ótimo “Longe do Paraíso”, filme que traz como contexto a sociedade da década de 50 e o papel da mulher nesta época. Mas aqui, embora trate de um tema merecedor de atenção, a preocupação é promover recreação. Para isso, Santucci coloca um outro tabu: o trabalho vinculado ao sexo. O sex shop como ofício de mulheres independentes com dificuldades em encontrar parceiros que aceitem tal função. A postura das mulheres frente ao trabalho nos sex shop é a princípio visto com preconceito, sobretudo pela protagonista, mas não demora para iniciar um trabalho de desconstrução de estereótipos a respeito da profissão.

A história segue Alice (Guimarães), uma mulher em franca expansão profissional que não sente falta de nada e acredita em tudo a sua volta ser perfeito. No entanto, algumas coisas inesperadamente acontecem. O roteiro propõe a falta de sexo com o marido como um dificultador, mas não é somente isso. É quando as coisas definitivamente fogem de seu controle que uma série de situações cômicas se iniciam. Ingrid Guimarães constitui uma Alice bem definida, mas não decidida, e a transforma num arquétipo de mulher moderna histérica frente a um fracasso – sua racionalização a respeito de sua vida atual, após o pedido de tempo do marido (Bruno Garcia), chama a atenção. Ela não quer ver e tampouco aceitar. O espectador, vendo de fora, apenas se diverte.

Com aparência de extensão do trailer, – conhecemos o filme inteirinho a partir do trailer de divulgação – o filme se aventura definitivamente na comédia e abre as portas para Maria Paula viver uma dona de sex shop o qual, num vislumbre invejoso e especulativo de outros personagens, tem a vida sexual pra lá de ativa. Daí chegamos ao Sex Shop e todas os “brinquedinhos” para agradarem tanto homens quanto mulheres – e usar o preconceito como trunfo é um acerto do diretor que coloca senhoras a procura de prazer. Uma desmistificação que soa natural na projeção nunca abusando das piadas – não é mais um besteirol brasileiro. E as cenas com o coelho serão muito comentadas após o fim do filme – esqueçam filosofias, não é um Donnie Darko.

No fim, percebemos e comprovamos um verdadeiro talento em cena. Ingrid Guimarães é uma atriz que não só transforma o filme numa comédia apreciável por todos os públicos como transmite carisma com uma personagem central muito bem caracterizada. Mesmo que o filme coloque cena após cena direcionando a um final cujas explicações caem na obviedade caricata do gênero – aquele típico “não é bem assim” – vale como um saco de risadas para quem procura apenas diversão. Novamente é preciso exaltar, Ingrid Guimarães está impagável e sua performance já é motivo para assistir o filme.


5 comentários:

  1. Eu adoro a Ingrid Guimarães, ela é simplesmente ótima, super engraçada.

    http://garotas-dizem.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  2. A ingrid realmente faz o estilo comédia despretenciosa muitoo bem!
    Não conhecia.. mas achei bem interessante... vou procurar ver ;D

    ResponderExcluir
  3. O cinema nacional tem surpreendido bastante e Ingrid Guimarães não faz diferente. A atriz evoluiu muito nos últimos anos e sua veia cômica pulsa mais forte a cada dia.
    Ainda não assisti o filme, mas aqui no Rio é sucesso de bilheteria.

    ResponderExcluir
  4. deve ser bom esse filme a ingrid tbm e mt boa no que faz

    http://planetahuumor.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  5. Me encantei pela Ingrid Guimarães no extinto "Sob Nova Direção" onde ela contracenava com a Heloisa Perissé. Um seriado em que ela cresceu bastante e desde então vem sendo um dos pontos fortes da comédia brasileira.
    Verei o filme em breve. Ótima crítica!

    ResponderExcluir