quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Proseando sobre... O Escritor Fantasma



Escritores fantasmas são aqueles que escrevem em nome de outras pessoas. É baseado neles que o cineasta cheio de problemas com a lei, Roman Polanski, concebe seu mais novo e aguardado projeto. “O Escritor Fantasma” é um suspense elegante e obscuro, indicativo em suas cenas passadas em locais que embora luxuosos são escuros e misteriosos. Escrito pelo próprio Polanski a partir da adaptação do romance de Robert Harris, o filme é regido pela desconfiança e levará o público a tal âmbito onde a curiosidade se encontrará com a dúvida e isso irá carregar o filme e permitir que sua função de thriller prospere. O diretor ainda consegue tirar de Ewan McGregor um surpreendente desempenho.

McGregor vive o fantasma – e percebam que seu personagem não tem nome – e meio a contra gosto aceita escrever uma biografia sobre um importante político polêmico, Adam Lang (vivido pelo raramente inspirado Pierce Brosnan). Ao viajar até os Estados Unidos, percebe um clima pouco amistoso ao se encontrar com Lang ficando ainda pior quando descobre que seu antecessor morrera em decorrência de um acidente pouco explicado. Cada vez mais, a medida que explora a vida do político, se percebe preso em uma rede de mentiras onde qualquer impulsiva atitude pode lhe custar a vida. O clima que se prolonga nesse percurso narrativo incomoda pela insegurança em volta do fantasma e levará o público a participar de toda a investigação.

Polanski submete seu personagem a opressão de um contexto que em primeira instância é desconhecido, em outra é suspeito e finaliza perigoso, sempre do ponto de vista de seu personagem central e das conclusões que este tira com suas questionáveis descobertas. Para estabelecer esse terreno nocivo, o diretor faz uso de aparatos técnicos como a fotografia sempre turva que ganha ainda mais aspecto de incerteza com a neve; e das locações isoladas numa casa rodeada de seguranças – eles estão ali o que representa perigo iminente – e o cenário de uma praia inabitada. A construção de seus personagens é outro trunfo do roteiro: não só reconhecemos o fantasma e sua ambiciosa investigação, mas também o político Adam Lang vai ganhando cada vez mais atenção igualmente a sua incógnita esposa, Ruth Lang (Olivia Williams), sempre acrescentando estranhezas na já dúbia história.

Sem ter ganho a atenção que merecia, esse “O Escritor Fantasma” atualmente nas locadoras, é um daqueles grandes exemplos de como os diretores influem de maneira fundamental as suas narrativas. Em mãos erradas, esse projeto seria mais um a tomar as prateleiras e cair no esquecimento, mas aqui, com Polanski, há pelo menos dois atos que permanecerão marcados por quem assistir: o plano o qual um bilhete passa de mão em mão, e outro, já em seu ato final, num polêmico acidente, tão sombrio quanto todo o resto do filme. Este projeto é uma concepção nada equivocada, mas habilidosa e competente, aproximando-se de “Chinatown”, obra clássica do diretor. Os homens nos filmes de Roman Polanski estão sempre perdidos em lugares totalmente desconhecidos e ameaçadores, característica difundida que não parece se renovar, mas ainda não nos cansou ou deixou de nos interessar. 


Um comentário:

  1. Como você disse que nem sempre todos concordam com sua opinião, esse filme eu realmente não gostei, eu acredito que o motivo maior seja por eu ter assistido ele logo após ver a versão suéca de "Homens que não amavam as mulheres" que é um filme e uma produção maravilhora, cheia de tensão, eu esperava mais do filme e ele não superou minhas espectativas, e como eu te disse parece que o filme foi cortado, pois quando ele ficou realmente interessante, simplesmente acabou...

    ResponderExcluir