terça-feira, 14 de junho de 2011

Proseando sobre... Malu de Bicicleta



Neste cenário atual do cinema nacional, algumas obras vêm ganhando força pela vitalidade e originalidade, distanciando-se da ótica estereotipada de que no Brasil só se faz filme de favela. A verdade é que o cinema nacional é rico em variedade, mas sabotado pela falta de divulgação. E temos também grandes adaptações cinematográficas baseada em obras de nossa literatura. Recentemente, os fãs do escritor Marcelo Rubens Paiva puderam conferir “Malu de Bicicleta”, obra homônima de seu livro de 2003. Os grandes centros assistiram o longa nos cinemas. Agora, nas locadoras, novos espectadores terão acesso a esse belo e contemporâneo romance.

Dirigido por Flávio Tambellini, “Malu de Bicicleta” vem contar o drama de um mulherengo, um conquistador paulistano que colecionava mulheres na noite e as tinha como objetos de seu prazer. Sua desculpa era gostar demais de mulher e querer passar um tempo com todas elas. Não demora para isso ser desconstruído e o roteiro assinado pelo próprio Rubens Paiva nos entregar um grande solitário que necessita de alguma companhia para se suportar.

A narrativa é branda e o romance desenvolvido acontece de maneira natural após Luiz Mário (Marcelo Serrado) decidir tirar umas férias no Rio de Janeiro depois de ser ameaçado por uma de suas garotas. No cenário praiano, imediatamente depois de se flagrar consumido de desejo pelas mulheres locais, é atropelado na orla por Malu (Fernanda de Freitas) com sua bicicleta, esta que estava a caminho da análise. A moça deixou o rapaz sem ferimentos, mas com uma curiosa fixação. Agora Luiz quer revê-la e entender o que essa estranha tem que tanto lhe interessou. Inicia-se uma longa espera com água de coco e conversas vãs.

Construído de modo seguro por Flávio Tambellini, o filme se mostra eficaz na sua proposta de tratar um relacionamento repentino que se engrandece organicamente e convincentemente com este casal enfrentando barreiras para ficar junto, inclusive a distância. Nessa perspectiva, Tambellini dá um tom mais cômico a Luiz Mário enquanto Malu se torna um enigma para o público desconfiado quanto suas atitudes. Utilizando elaborações idealizadas de como o personagem gostaria de lidar com a situação ao contrário do que ele realmente faz, igualmente a várias cenas de “Réquiem para um Sonho”, este “Malu de Bicicleta” se apropria da técnica visando um apelo ao humor. E funciona.

Os atores engatados se divertem em cena. Fernanda de Freitas e Marcelo Serrado acertam por dar naturalidade aos personagens tornando-os críveis. O personagem de Serrado se definha na sua perspectiva como se vivesse um primeiro amor e o ciúme reforçado por projeções imaginativas e comentários de outros, se tornando um tipo de personagem Shakesperiano doentio – e isso é desenvolvido com a sutileza de Rubens Paiva – passando da comédia ao drama. As risadas constantemente acontecem e o ritmo sempre leve contribui para que essa pequena obra seja uma experiência satisfatória no cenário do cinema nacional. Vale dar uma conferida no livro antes de assistir o filme. 


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