terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Proseando sobre... A Invenção de Hugo Cabret

 
Alguns filmes nos são mais do que comoventes, nos proporcionam o prazer de estar numa sala de cinema e perceber tudo que este nos proporciona, tanto em nas suas histórias quanto nos valores atribuídos em cada uma delas. Presente no imaginário social como arte do entretenimento e representação do dia a dia, o cinema que antes era visto como algo passageiro, tornou-se a principal representação artística, a arte do século XX. Sua origem é importantíssima, porém distante e desconhecida por tantos. Vários de seus primeiros filmes se perderam, um pedaço de sua história fora extinto. Nessa idéia, o gênio Martin Scorsese nos presenteou com uma obra que recorda o passado com carinho e sensibilidade. “A Invenção de Hugo Cabret” é uma homenagem singela a história do cinema. 

Um menino, Cabret (vivido pelo inglês Asa Butterfield da adaptação “O Menino do Pijama Listrado”), está morando sozinho numa estação de trem em Paris nos anos 30. É ele quem cuida dos relógios, assumindo as escondidas o ofício que era do tio alcoólatra. Antes de parar ali, vivenciou uma triste tragédia. Seu pai (Jude Law), um gentil e sonhador relojoeiro, morreu num incêndio antes de solucionar um curioso enigma. Ele lhe deixou um autômato cujo funcionamento de suas velhas engrenagens possivelmente esconderia uma valorosa mensagem, a qual o jovem acredita ser relacionada ao próprio pai. Motivado pela curiosidade, Hugo irá atrás das peças que faltam à máquina, e para chegar até elas, fará incríveis descobertas.

Apostando num visual encantador próprio de fábulas, Scorsese se aventura num solo novo em sua magnânima carreira. O diretor inevitavelmente demonstra pouca familiaridade com o universo retratado, abusando de artifícios costumeiros – a exemplo recursos oníricos e flashbacks contemplativos –, porém de inigualável qualidade técnica. A fotografia de Robert Richardson busca a composição detalhada daquele cenário iluminado e se atém a detalhes, como a exibição da imensa biblioteca ou a sala cheia de velharias de um vendedor. Com bom ritmo e cenas emocionantes, a narrativa escrita por John Logan a partir do livro de Brian Selznick faz referência ao passado homenageando um dos mais famosos precursores do cinema, Georges Méliès.

A importância da história do cinema é ressaltada através do apreço de seus fiéis fãs e realizadores. Na história, um homem coleciona alguns momentos da carreira de Méliès (Ben Kingsley), guardando filmadoras entre outros objetos do cineasta. Após a 1º guerra, boa parte das centenas de filmagens se perdeu. O papel do tempo é fundamental nessa narrativa – simbolicamente os relógios da estação em que Hugo passa as horas – enfatizando o valor inestimável que temos com ele. No percurso traçado em busca da resolução do mistério guardado no autômato, seguiremos as investidas do jovem protagonista ao lado de Isabelle (encarnada pela talentosíssima Chloë Moretz). Mergulhamos na história do cinema, seus primórdios com os irmãos Lumiere, as primeiras exibições, entre elas “L'Arrivée d'un Train en Gare de la Ciotat” e “Viagem à Lua”. A fantasia proposta ressalta o reconhecimento que temos de nós e o que deixamos, o preço da históreço da hist fazemos, o lta o reconhecimento que temos de nfelizcinema, ratado, abusando de artper relacionada a seu pai.almentria construída.

Um brinde a arte e a imaginação! “A Invenção de Hugo Cabret” é divertido e cheio de ótimas intenções. Soa a princípio como um filme infantil, porém transcende a suspeita logo em seus minutos iniciais, após a belíssima abertura onde adentramos no contexto da estação num plano único. O distanciamento das pessoas também é narrada, propondo os eventos com o mundo e como este sobreviveu – marcas da guerra são sempre mencionadas. A guerra está fincada e está, além de outros tantos lugares, na perna no inspetor (Sacha Baron Cohen, de “Borat”) que se mostra quase incapaz de se aproximar de uma moça (Emily Mortimer) devido aos empecilhos de uma prótese barulhenta. Fica a redenção e a possibilidade dos sonhos, da imaginação, dos livros e de nossa história, o que nós somos, o que fizemos e o dissabor do que, em algum momento, deixamos de fazer, sofrendo as consequências disso na memória.
 

Um comentário: