quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Proseando sobre... O Despertar



Mais um filme com temática de espíritos provém do Reino Unido. “O Despertar” começa com um anúncio, não sobre a possibilidade de tudo ser real, como em obras recentes, também não enfatiza uma adaptação de um caso verídico, como outros filmes tentam nos fazer engolir. Esse se adequa a um momento histórico, o pós primeira guerra mundial onde milhares morreram, seja em conseqüência da própria guerra ou pelas doenças que assolaram a Europa. Foram anos em que a indefinível quantidade de perdas rendeu uma grande demanda daqueles que não aceitaram as mortes e procuraram, a todo custo, buscar contato. Daí surgiram os charlatões sensitivos faturando em nome da crença o que, ainda hoje, é encontrado em várias esquinas.

Porém na época, segundo a história, havia alguém para desmascarar isso. Florence Cathcart faz um tipo de investigadora de casos sobrenaturais, desvendando falsas manifestações e jogando para a polícia uma lista de impostores. Com um grande equipamento, ela viaja a procura dos fantasmas, costumeiramente indutiva e cética quanto à existência desses. Ela também é muito famosa no país por ter escrito um livro que desmistifica tais aparições. É quando recebe um convite para ir até um casarão que abriga meninos por afirmarem que lá vive um fantasma real que a história toma um rumo fazendo-nos acompanhar a investigação de Florence, certa de que iria encontrar alguma criança dona de brincadeiras assustadoras. Mas há uma história por trás disso a se considerar, ainda mais pelos pequenos detalhes que o filme expressa a seu público. Alguém morreu lá.

Durante um ato, dois personagens jogam paciência. Dizem que as peças precisam se encaixar, todavia, para isso, é preciso da tal paciência. Uma mera brincadeira lingüística feita com a intenção de fazer alusão à história sombria. Estamos frente a um casarão cheio de portas, com quadros aterrorizantes e crianças amedrontadas. O clima frio e a fotografia escurecida tendenciosamente ao cinza dá a impressão de ameaça e tristeza, sentimento compartilhado por todos os personagens, alguns solitários, outros com memórias malditas e até aqueles com um passado esquecido diante um evento brutal.

O universo concebido pelo diretor estreante em longas metragens Nick Murphy mistura elementos de filme de suspense com investigação ao estilo clássico presente na literatura, sobretudo de Conan Doyle. As sutilezas da trama dão um ímpeto misterioso à trama que brinca com sombras e sustos, muito sustos, alguns bastante funcionais – a cena num lago é especialmente inspirada. Os recursos de sua heroína, vivida com beleza e frieza pela inglesa Rebecca Hall (de “Vicky Cristina Barcelona”) dão um tom de ocultismo e isto prevalece na história até seu ato final, demasiadamente prolongado. Esta postura cautelosa que insiste em manter é quebrada em poucos momentos, quando percebe no outro uma fragilidade que é sua – seja na mutilação de Robert Mallory (Dominic West); ou na solidão do pequeno Tom (Dominic West). A dissociação proveniente desses eventos é denunciada num clímax semelhante a obras análogas, como em “Os Outros” de Alejandro Amenábar. Impossível não se recordar deste.

Tenso do ponto de vista dramático e visivelmente ansioso em explorar suas surpresas, o longa segue um ritmo que por vezes até empolga, mas vai perdendo a força. Quando, desta maneira, nos deparamos com as revelações, a gana pela resposta já é bem controlada e a obra com bom potencial de se tornar alguma referência recente dentro de filmes do gênero despenca. Porém a diversão existe da mesma maneira e ritmo que o atual e também inglês “A Mulher de Preto”, portanto com elementos narrativos mais espertos. Por exemplo o projeto daquele casarão estabelecido num quarto, onde pequenos bonecos são estranhamente posicionados indicando acontecimentos recentes, visto apenas por um observador onipresente. Sem fôlego, porém com atuações interessantes, destaca-se nisso a guardiã vivida pela expressiva Imelda Staunton, o filme se desenvolve até lugares comuns, emitindo lapsos de bons momentos, nos recordando de filmes que continham casarões amaldiçoados. Vale lembrar de “Amityville”, “O Iluminado” e a mini série “Rose Red”.

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