quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Proseando sobre... Um Dia


Outro romance de David Nicholls ganhou uma adaptação, essa roteirizada pelo próprio. Chega aos cinemas um expoente das aspirações românticas, daquelas que fazem os mais emotivos se desmancharem em lágrimas. O filme está longe de ser uma notável referência romântica atual – não que a demanda esteja boa –, mas também está a quilômetros de uma estupidez do tipo “Um Amor para Recordar”. “Um Dia” resplandece em emoção casual, exposição perceptível nas entrelinhas de sua trama sobre o desenrolar do relacionamento entre um casal central desigual, separados pela inconseqüência e planos futuros, cujas ambições os divergiam.

Protagonizado pela graciosa Anne Hathaway e pelo inglês Jim Sturgess, o filme retrata um breve momento tendencioso ao erotismo entre Emma e Dexter, com a primeira temente quanto a sua habilidade na cama com o homem, enquanto Dexter predisposto ao sexo e as curtições depravadas, admira com certo entusiasmo aquela garota diferente, inocente, temente e despreparada. Este encontro revela algumas características de seus personagens, as quais serão trabalhadas através dos anos, tempo em que testemunharemos os caminhos opostos do casal, ligados pela cumplicidade e amizade. Os seguiremos por mais de uma década, com altos e baixos, exibidos num dia, o fatídico 15 de Julho. Há pouco o italiano “10 Invernos” trouxe uma proposta bastante semelhante e talvez, com ressalvas, melhor desenvolvida.

Dirigido pela dinamarquesa Lone Scherfig, que há alguns anos filmou o ótimo “Educação”, esse “Um Dia” representa um retrocesso na carreira da diretora. Habituada ao desprendimento fantasioso e demasiado piegas que tanto se faz presente em filmes do gênero, nessa adaptação ela explora acontecimentos a partir de escolhas, caminhos trilhados sem sucesso, auges sem esforços e responsabilidades como foco para uma vida a dois, algo que o casal, em anos, não poderia obter devido as suas tão distintas trajetórias. Uma quer realizar alguns valores, é comprometida com a carreira e pretende escrever um livro; já o cara quer a vida fácil, fama, dinheiro e drogas. A tal curtição que o leva ao estrelato até quando se defronta com o tempo, seu algoz. Em um breve ato, uma alusão à dupla: a dualidade do Ying Yang.

A história de fato manjada ainda funciona, é uma fórmula tão usual que sustenta um público específico, ainda capaz de se emocionar em repetições com caras novas. Isso garante o entretenimento e a diversão de quem quer apenas uma experiência sensorial alternativa. Tem sua validade, sem dúvidas. Mas também é justamente por isso, por essa reciclagem descabida de outras obras – e não há quem não se recorde de “Cidade dos Anjos” num ato –, que o filme se revela uma fábula romântica difícil de levar tão a sério pela falta de novidades. Tem um bom argumento por trás dos desejos carnais vigentes, questionar os pequenos momentos da vida, às vezes vistos como sem importância, porém fundamentais. Essa moral acaba ficando de lado para a narrativa declarar sua predisposição ao trágico quase shakesperiano. O filme vale também, economicamente, a uma viagem nossa ao final dos anos 80 e por toda a década noventista, numa proposta de salientar o passar dos anos e perceber com nostalgia como foram as roupas, músicas, filmes e programas de tv, e como mudaram. Tudo se junta para deixar uma mensagem no ar: o Carpe Diem, as inevitáveis mudanças e os retornos ao quem somos, com restrições e responsabilidades para que o futuro não nos seja tão rigoroso.  


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