quarta-feira, 28 de março de 2012

Proseando sobre... A Dama de Ferro



 Com um olhar romântico e apaixonado sobre os anos de Margaret Thatcher no poder, o novo filme de Phyllida Lloyd é um tipo de juras de amor a dama de ferro, trazendo suas lembranças do tempo em que dominou o Reino Unido. Não só isso, há ainda sua trajetória, seu início turbulento e difícil, tempos em que era alvo de gozação e aguentava a resistência dos homens poderosos, hostis quanto as investidas políticas de uma mulher, especialmente a filha de um quitandeiro. Para retratar um pouco da vida desse ícone inglês, o drama de Lloyd se prende a um roteiro cronológico, sem seguir uma direção única, o que rende complicações e desordens narrativas. Tudo é muito apressado. 

Somos ligeiramente apresentados as atuais condições de Thatcher, sofrendo de alucinações com o ex marido e revivendo o passado glorioso. Ela está doente e passa os dias rememorando os feitos, o que nos leva a eles. Estímulos em sua casa escurecida – o trabalho do fotógrafo é eficiente em revelar a frieza que permeia sua atual condição longe dos holofotes – traz a tona grandes momentos, sua inserção na política, os meses em que sofreu pressão para sair do poder imediatamente após o episódio da greve dos mineiros britânicos, como também seu momento de esplendor quando foi ovacionada pelo país assim que sucedeu sua vitória na Guerra das Malvinas. Tudo isso é mostrado em lapsos, sem se ater a maiores detalhes, o que faz muita falta. O que parece importar mesmo é a apresentação de sua estrela, que seria minúsculo caso a intérprete não tivesse o calibre de Meryl Streep.

Dona do filme, vencedora do Oscar por sua atuação nele, Streep faz valer cada segundo em que está em cena. A história de Tatcher quase fica de lado para apreciarmos a o talento da diva hollywoodiana, exuberante e absolutamente entregue a personagem, marcando mais uma estupenda interpretação em sua magnífica carreira. A atriz vive distintas épocas da biografada com uma maquiagem contribuindo para aproximá-la de sua homenageada. Meryl Streep demonstra uma solidez impressionante e uma transformação necessária proposta pelo roteiro: suas atitudes e seu modo de falar convertidos numa dicção fina. É interessante acompanhar de uma maneira próxima, porém econômica, a progressão do tratamento de Margaret Thatcher, semelhante a do Rei George VI em "O Discurso do Rei".

A empreitada dá certo pela empatia por Streep, não por sua personagem. Longe do que ocorrera em "A Rainha" com Helen Mirren dando vida a Rainha Elizabeth II num roteiro melhor elaborado, essa obra sente falta de coesão e ritmo. Poderia tudo ser ficcional, não faria tanta diferença, caso o espectador não conheça muito como foi o tempo em que a Dama de Ferro esteve no poder. Mas é bom percorrer seus anos a frente do país, sua luta, sua batalha diária pelo respeito e pelo bem almejado do seu povo, nem que isso rendesse sacrifícios. Rendeu. Ela lutou pelo Inglaterra, pôs seu nome na história, no entanto nunca se manteve unânime. Há quem torça o nariz por essa biografia na telona, romantizada e com faceta de heroína. Phyllida Lloyd parece não temer isso, aposta em sua protagonista e nos bons coadjuvantes em sua volta, principalmente Jim Broadbent que vive Denis Thatcher. A diretora já havia trabalhado com Streep em "Mamma Mia!", vale ressaltar. Tendencioso e pouco ousado, os defensores de Thatcher certamente ficarão insatisfeitos.


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