quarta-feira, 21 de março de 2012

Proseando sobre... Tão Forte e Tão Perto


 Há pouco tempo a tragédia de 11 de Setembro completou 10 anos. Alguns filmes trouxeram o acontecido, mostrando que o ocorrido ainda não foi devidamente digerido pelos norte americanos. "Tão forte e Tão perto" utiliza esse fato histórico como plano de fundo para contar uma história de relações familiares, centrando a narrativa num menino, Oskar (Thomas Horn), que inicia uma verdadeira expedição por New York atrás de uma fechadura. Ele só tem uma chave e um nome, Black, este que incide numa lista de mais de 400 possibilidades de pessoas morando nos distintos cantos da cidade. Sua aventura está nessas ruas, motivado pela perda, por um enigma não resolvido e pela esperança sobre um possível contato com seu pai morto no desastre do World Trade Center.

Exageradamente sentimental, o novo projeto de Stephen Daldry (“As Horas”) não economiza em cenas comoventes. A obra, aliás, parece querer almejar lágrimas de seu público através de uma história fraternal, uma ainda em reconciliação com a morte do patriarca. Outras ao redor também estão tentando superar perdas. O país inteiro ainda está estremecido. O ano é 2002 e Oskar sai sozinho pelas ruas de New York atrás daqueles que detém o sobrenome Black e que possam ter tido algum contato com seu pai (Tom Hanks). A proposta nos parece inverossímil, constatamos uma criança solitária atravessando aquela cidade. Comprometidos com o cinema, acabamos aceitando o que rola em cena.

Baseado no best-seller de Jonathan Safran Foer, o longa de Daldry roteirizado por Eric Roth, vencedor do Oscar por "Forrest Gump", inflama emoção, demonstrando dualidades sentimentais, do ódio ao amor em instantes. Segue-se nesse ponto a construção do personagem central, o menino Oskar. Sempre envolvido com enigmas e brincadeiras investigativas, o garoto demonstra uma inteligência incomum, ao mesmo tempo que revela sua infantilidade irritante. Nos pegamos detestando-o em alguns momentos. Ele é apenas uma criança, frágil e inocente, embora às vezes não pareça. Alto destrutivo, neurótico obsessivo e com resistência a qualquer coisa que possa lhe colocar em perigo (o metrô, um balanço), Oskar vai rompendo fronteiras e se desprendendo de um luto prolongado à medida que reconhece o mundo ao seu redor e as pessoas que lhe oferecem alento.

Sua incursão pelas ruas de New York é um pretexto do roteiro para representar as pessoas naquele universo, cada qual com suas vidas, dividindo experiências. É quando entra o locatário vivido por Max von Sydow que a história ganha um fôlego a mais, sem palavras, mas com gestos e uma dinâmica eficiente, numa relação de descoberta e cumplicidade entre dois estranhos, tornando-os íntimos e iguais. Outros coadjuvantes fortalecem essa ligação com o mundo real ao contrário da idealização proeminente de Oskar, como a relação dele com o porteiro, ou até mesmo com Abby Black (Viola Davis) – essa é especialmente trabalhada, quando o jovem oferece afago ao seu pranto mais por obrigação que por desejo. 

Carismático, porém prolongado, “Tão forte e tão perto” é um turbilhão de sensações, experimentadas por quem acessa o filme e seu interesse em destacar um fato marcante da história americana sem que essa fosse o mais importante na narrativa. Resta como conseqüência as lembranças e histórias dos sobreviventes, contadas como forma de manter o passado vivo. Num ato, afinal, um personagem sugere: “histórias precisam ser compartilhadas”. Que outra frase salientaria tão bem a oferta de Daldry?


Um comentário:

  1. Ótimo filme! Tem vários personagens interessantes e uma história comovente. Recomendo!

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