quarta-feira, 25 de abril de 2012

Proseando sobre... Poder sem Limites



 Há algum tempo que os filmes de super heróis andam aborrecidos com relação aos temas trabalhados, o maniqueísmo já não tem tanta função senão entreter, é o mais do mesmo e do comum travestido com uniformes coloridos e contextos diferentes. Ainda tem muita atenção, sem dúvidas, no entanto alguns derrapam tanto em crítica quanto nas bilheterias. Algumas idéias, por sua vez, se destacam sem o calor das superproduções, menciono como exemplo "Kick-ass" que conquistou relativo sucesso. Agora é a vez de "Poder sem Limites" chamar a atenção, trazendo as consequências dos super poderes em mãos centradas na ira de alguém cuja vida fora oprimida. O filme é dirigido pelo estreante Josh Trank e tem muito mais a dizer que a maioria de seu gênero.

Três jovens entram no que parece ser um buraco causado pela queda de um meteorito. Um vez no local, escuro e úmido, notam uma luz atrativa, estranha. Este momento de descoberta transforma-se em desespero. Numa cena posterior, acompanhamos o trio mudado, buscando desenvolver seus poderes telecinésicos. Como um músculo exercitado diariamente, as novas habilidades são treinadas e pouco a pouco dominadas. Tudo isso nos é mostrado através das filmagens de Andrew (Dane DeHaan) que, com câmera em punho, registra o progresso das ações dos amigos. O caráter amador da filmagem acrescenta a hipótese do plott. Este é mais um exemplar da narrativa documental cujas intenções são satisfatórias.

Tal artifício estético de filmagem favorece o roteiro, os furos encontrados podem ser descartados devido à dinâmica narrativa empregada. “O que é aquela rocha no buraco?” ou “o que proporcionou os poderes aos jovens?” são questões perfeitamente ignoráveis. Não há preocupações com tais respostas. A idéia central se estabelece na mescla de filmagens feitas por câmeras distintas compondo o longa e revelando a transformação dos atos, com a situação cada vez mais fora de controle. Algo bastante atual é a geração que registra tudo com micro câmeras documentando o que alcançam. O que vale é o espetáculo, não importa o que custe seria um lema a necessidade de difusão na internet. Uma criança no decorrer da história filma com um celular um catastrófico conflito. Apropriadíssimo.

Descompromissado com a lógica narrativa, o filme vislumbra um foco e o atinge: o poder utilizado em detrimento do outro, como um superpredador opondo-se a uma massa julgada inferior. O trio é bem apresentado e explorado, induzindo nossa proximidade: têm-se o notável e popular Steve (Michael B. Jordan) cujas atuais pretensões referem-se a vitória numa eleição no colégio; Matt (Alex Russell) apresenta dificuldades de relacionamento com uma garota e fundamenta-se em teorias filosóficas e psicológicas citando nomes como Schopenhauer e Jung para exprimir seu descontentamento com a sociedade, racionalizando as circunstâncias; e por último, Andrew, sofredor de violência em todos os âmbitos, ignorado popularmente e agredido por outros, o que, em tese, ajuda a justificar seus feitos e delírios quando se assume o mais forte. O glamour do ser herói é desconstruído, o próprio filme evoca um visual triste, turvo. Existe a demasiada responsabilidade certa vez sugerida em “Homem Aranha”, denunciada nas distintas proporções atingidas pelo filme de Trank. O resultado disso é superlativo e temeroso. 


Um comentário:

  1. Eu gostei! um dos poucos filmes de super-heróis que fogem do maniqueismo. Bem divertido, com ação e aventura em doses certas. Recomendo.

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