segunda-feira, 14 de maio de 2012

Proseando sobre... American Pie: O Reencontro


Robustecido pela nostalgia, “American Pie: O Reencontro” é uma feliz continuação acontecida muitos anos depois, mostrando aquele grupo de personagens que marcaram espectadores no final dos anos 90 em suas atuais condições: constituição de família, luta para serem bem sucedidos nas carreiras, os casos amorosos frustrados que se perderam através dos anos, e principalmente, o quanto amadureceram... ou não.

A essência descompromissada de um legítimo besteirool – “American Pie” pode ser considerado o pai do gênero – persiste com ressalvas sutis nessa continuação, a autêntica quarta parte. Lembrem-se que após o terceiro longa, o casamento, saíram supostas sequências centradas em peitos e bundas, ignorando todos os personagens originais, mantendo, somente, o Sr. Levenstein, o pai do Jim, vivido pelo icônico Eugene Levy. Agora os tempos são outros e todos retornam, seja em curtas cenas, ou tendo papel fundamental na trama que, bem roteirizada no sentido de dar valor a cada um dos 5 protagonistas, destina com cuidado os futuros. 

A direção é da dupla Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg, os caras por trás de “Madrugada muito louca”. Eles exprimem o que há de melhor nos personagens, fundamentando um final para cada um, embora, por força maior da própria produção, seja instigado uma menção por mais alguma continuação. Algo que, a princípio, parece interessante, mesmo correndo o risco de destruir a conquista desse reencontro: celebrar o futuro daqueles que se tornaram queridos por alguns públicos. 

Condizente a expectativa reinada por anos desde o terceiro lançado em 2003, o filme é trabalhado com vivacidade e muito bom humor, dominado, evidentemente, pelo escracho sem severas apelações. Nudez, palavrões e sexo são tradições importantes e hiper funcionais, nada está deslocado na narrativa e tudo é suficientemente importante para ela. Jim (Jason Biggs), Kevin (Thomas Ian Nicholas), Oz (Chris Klein), Finch (Eddie Kaye Thomas) e Stifler (Seann William Scott) tem, cada um, bom tempo em cena para revelar suas angústias com o envelhecimento, expostos as novas condições, obrigados a se adaptarem. 

Lidar com o diferente e constatar a atual geração cada vez mais precoce são coisas que o filme se permite, inteligentemente, diga-se de passagem, salientar. Quem acompanhou os primeiros filmes notará o contraste. Os homossexuais declarados, as gírias, a tecnologia em tudo, não havia nem celular – uma boa cena brinca com isso. Quanto às atuais circunstâncias, seguiremos seus personagens, alguns separados de seus antigos amores, como Oz e Heather (Mena Suvari), ou Kevin e Vicky (Tara Reid), resultado de opções pela carreira. Jim que era babá da pequena Kara, a vê crescida (Ali Cobrin), completando 18 anos em plena exuberância física. Finch, que posava como o intelectual do grupo, encobre seu progresso fracassado. Já Stifler, vive a frustração de não saber o que quer, assistindo os teens agirem como ele no passado de uma maneira ainda mais cretina.   

Podem julgar o filme banal, os moralistas certamente o farão. Esse é um trabalho para fãs, o registro de uma fase com seus prós e contras, e do quanto crescer custa. Assim observamos o atual contexto e as finalidades de seus personagens por vezes emitindo suas desilusões. Ser feliz, eis uma conquista complicada, esta vai contra as expectativas de outrora, marcadas na escola quando os cinco diziam o que almejavam conseguir no futuro. Uma reflexão em torno disso permeia durante a projeção, fica no ar a todo instante e cresce à medida que vamos reconhecendo os personagens. Os filmes da franquia nunca buscaram a reflexão sobre os tabus estipulados, embora os fomentassem através de um problema atual antecipado: o vídeo de Jim compartilhado na internet. Tudo isso aconteceu antes de entrarmos neste século.

É bom ver essa conclusão tão divertida e satisfatória. As piadas tão bem atribuídas e distribuídas não são reciclagens do que uma vez fizeram, mas apropriadas aos dias atuais, carregadas com as personalidades imutáveis de seus protagonistas. De geração para geração, trata-se de uma epopéia de situações emergidas na memória daqueles que acompanharam de perto a trajetória dos formandos de 99 da fictícia East Great Falls. Divertidíssimo, esse “Reencontro”, mais do que qualquer outra coisa, nos faz testemunhar o valor da amizade e seus percalços, o tempo e seus dissabores. É uma revisitação dedicada à saudade que alguns tinham desses caras.   


Nenhum comentário:

Postar um comentário