segunda-feira, 7 de maio de 2012

Proseando sobre... Paraísos Artificiais


Abordando, entre tantas coisas, o abuso de drogas, “Paraísos Artificiais” leva o espectador até um vislumbre de sentidos quando enfoca seus personagens vivenciando as mais distintas experiências em diferentes lugares através da música eletrônica, da contemplação da natureza, lampejos de filosofia libertária, alucinógenos e sexo. O diretor Marcos Prado, famoso pelo ótimo “Estamira”, não poupa detalhes e cenas, buscando a intimidade dos protagonistas, sempre muito próximo deles com a câmera, explorando detalhes de sorrisos e prazeres num infindável templo de sensações, com segredos que se revelam e sugestionam a partir das conseqüências de atos atingindo anos. 

Vale se concentrar em quem são seus personagens centrais: Érika (Nathalia Dill), uma jovem que sonha tornar-se uma renomada DJ e despontar nas pistas; Nando (Luca Bianchi) é um artista talentoso sem empolgação; e Lara (Lívia de Bueno) amante de Érika, hiperbólica, disposta a qualquer coisa. O trio se une eventualmente numa rave e as trajetórias se mesclam através de uma narração ilógica, compondo uma história banhada por amores e tragédias. São jovens entregues a energia de uma vida apática, batendo as portas do paraíso, devorando o que podem em troca de uma passividade momentânea, fictícia. 

Sem julgamentos pelas ações dos protagonistas, não há lições de moral pelas conseqüências dos feitos, até se trabalha com uma desresponsabilização das drogas em relação aos seus efeitos, o que não quer dizer que as inocenta. A idéia parte da racionalização de seus usuários como defesa. Tal escolha é benéfica para a narrativa, consciente de sua força e de suas intenções: tratar o humano ali, naquele contexto e os resultados de determinadas escolhas para a vida. Os reflexos disso modelam a forma do longa, cuja cronologia nada linear as vezes atrapalha pelo excesso de informações, no entanto não tiram o mérito de suas conclusões. 

Se o tratamento dado a história submerge, a parte técnica impressiona. As tomadas nas raves e o delírio psicodélico são captados com elegância e precisão por Prado, evidenciado pela brilhante fotografia de Lula Carvalho. Destaca-se nesse sentido a paranóia de Erika num determinado instante refletindo um pesadelo inconsciente. A exaltação desse universo é entusiasmada e empolgante, soma-se a ela a beleza natural do nordeste brasileiro com as deslumbrantes ruas de Amsterdam. As atuações são correspondentes, especialmente de Nathalia Dill entregue num papel ousado, atuado com coragem e determinação intimista nesta que é sua estréia nas telonas.

“Paraísos Artificiais” soa poético, bonito, com adornos para concluir sua desordem. Nesse âmbito, estão relações familiares e discussões entre irmãos, Nando e o caçula Lipe (César Cardadeiro), o que encaminha resoluções. Algumas coisas ficam no ar, aguardando a digestão do público. Outras é melhor ignorar. Fiel a retratação vigente dos jovens da atualidade, o longa traz uma tribo utópica distanciando-se do materialismo numa festa desregrada. Esta obra de Marcos Prado tem o valor de um “Trainspotting” sem personas tão icônicas, a não ser pela presença de Mark (Roney Villela) com frases prontas de efeito. 


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