quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Proseando sobre... Elles

Várias desculpas poderiam justificar, embora sem grande êxito, a realização dessa apática obra estrelada pela costumeiramente espetacular Juliette Binoche. Não há nenhum grande foco, existem situações, questões jogadas entre as interações dos personagens que por vezes emulam situações corriqueiras da vida e conotações de desejos reprimidos. É o máximo da narrativa relembrar o quanto mascaramos sentimentos, e isso é pouco, pois a forma com que objetiva a proposta é problemática, com pouquíssima coisa satisfatória. O filme trabalha com um tema fértil: a prostituição. Sobre ela, morais se desenrolam e estereótipos tradicionais se quebram. Trata-se de puro desejo e conforto, facilitações e abstrações.

A história é simples e carrega potencial. Anne (Binoche) é uma jornalista da revista Elle com pretensões de fazer uma matéria contendo entrevistas feitas com estudantes universitárias que se prostituem. Sua curiosidade transcende a motivação dessas garotas, parece buscar nelas uma resposta outrora recalcada em sua vida. Há uma intrusão a intimidade dessas mulheres que até certo ponto se defendem. Quanto a protagonista, percebemos o quanto é legítima sua projeção durantes as conversas, com a atriz habilidosa em cena mostrando-se introvertida, perdida em devaneios enquanto as jovens contam orgulhosamente suas experiências. Anne às vezes se perde na escuta. Já as garotas, Alicja (Joanna Kulig) e Charlotte (Anaïs Demoustier), contam despreocupadamente e com detalhes seus encontros.

Capaz de absorver os detalhes das entrevistas levando a aspectos de sua rotina, relação com o marido, filhos e o trabalho, Anne se apropria dos discursos percebendo-se atada a frustração pessoal, algo que ela não via, ou pelo menos não queria ver. Sua compreensão arrasta-se até um jantar em que ela mesma prepara numa noite a fim de recepcionar o chefe do marido. Essa construção é banhada de metáforas e referências por vezes libidinosas, constatando sua nova condição consciente. A diretora polonesa Malgorzata Szumowska não emprega moral em seu longa e leva as prostitutas a outro âmbito em cena, diferindo do comum retratado onde usam personagens provenientes da miséria e encontrando solução na prostituição. Elas não são vítimas de um contexto. Aqui, acontece por vontade. Faz lembrar as memórias de Mãe, filha, avó e puta quando tece uma crítica a condição da mulher e relata, em defesa das prostitutas, que o mundo não é feito de vítimas e que tudo é negociável, inclusive o sexo.    

A temática não é nova e nunca sai de moda. Steven Soderbergh trabalhou com a ex-atriz pornô Sasha Grey em Confissões de uma Garota de Programa (The Girlfriend Experience, 2009) trazendo parecidamente o glamour hipócrita de uma pessoa que vive duas vidas, embora a verdade seja, por vezes, compartilhada. Incontáveis filmes são lembrados quando se trata o assunto, sobretudo na oferta de estabilidade, finalidade sedutora posta nos diálogos. Esses que no filme soam frouxos e vagos, comprometendo o resultado final. Sua limitação pouco envolve, mas instiga reflexão levantando dúvidas a respeito de quando o prazer se esgota. Vale fazer menção a A Bela da Tarde (Belle de Jour, 1967) de Buñuel, infinitamente superior a esse Elles (idem, 2011).

A complexidade que se supunha é passageira. O filme passa, se delonga e se esvai, deixando poucas questões a tratar. As histórias contadas pelas duas entrevistadas são boas, breves e concisas, conciliando cenas sem pudor – e tome perversão com variados clientes – com relatos sinceros de uma vida de luxúria na capital francesa. Em poucas noites dá para arrendar um apartamento em Paris. Sem julgamentos e com um olhar implícito sobre circunstâncias sociais, Elles remete ao jogo de aparências num turbilhão de vaidades, colocando em pontos mulheres bonitas escolhendo um caminho oculto e lidando com a rejeição e levando uma vida comum e voluntariamente feliz. Isso não quer dizer que estimula o espectador a fazer o mesmo, mas dá um tapa na cara de quem se vê superior a elas. Observamos um sorriso no rosto natural nessas mulheres ao contrário de um tímido movimento nos lábios omitindo insatisfação, esses estampados na face da hipocrisia.

Crítica primeiramente publicada em http://www.cineplayers.com/critica.php?id=2454


sábado, 22 de setembro de 2012

Proseando sobre... O Legado Bourne



O filme inicia e sua primeira cena logo nos leva a pensar: ora, já vi isso antes. Segundos depois: claro, esse é Jason Bourne. Não. Quase isso. É uma tomada na água, um corpo está flutuando inerte. Logo ele se movimenta e mergulha. Entre montanhas gélidas, nevascas e lobos, um homem caminha solitário sobrevivendo como pode as duras ações do tempo e percebe que as pílulas que usa para sustentar sua força e percepção estão se esgotando. Este é Aaron Cross (Jeremy Renner), um homem igualmente poderoso como Jason Bourne – este último é constantemente citado ao longo do filme –, com as mesmas habilidades físicas e intelectuais. Ambos fizeram parte de um projeto de criação de seres humanos superiores e, enquanto o Jason é perseguido, segundo a lógica cronológica dos filmes anteriores, outros homens são exterminados, o que nos leva a fuga do protagonista, Cross, o número 5 dos experimentos. 

Resultado de um programa chamado Outcome, esses homens transformados em super agentes precisam ser exterminados antes que a verdade por trás da finalidade do experimento seja revelada. Não somente esses, mas os cientistas envolvidos com a droga e que conhecem os objetivos do projeto do governo também devem ser extintos. Uma caçada letal se inicia, com uma série de mortes e uma fuga desenfreada com poucos sobreviventes, entre eles, além de Bourne – que não aparece em cena, a não ser numa foto – está Aaron e a Dra. Marta Shearing (Rachel Weisz). Para nos transportar ao âmbito característico da trilogia, cenas de ação, perseguição enérgica, combate em extremos e viagens a várias partes do mundo contextualizam a trama. Algumas seqüências de cena são interessantes plasticamente, no entanto o senso espacial de seu realizador compromete, com distâncias vencidas em tempos recordes e excesso de cortes.
   
Fora da empreitada, Paul Greengrass que dirigiu os dois últimos longas da franquia cedeu a cadeira da direção ao roteirista dos 4 filmes, Tony Gilroy, que tem experiência por trás das câmeras, inclusive com indicação ao Oscar em “Conduta de Risco”. Se anteriormente a premissa trazia um homem em busca de sua identidade nos convencendo que a graça do projeto era a revelação de quem era o sujeito que dotava de uma série de habilidades além dos potenciais humanos, essa sequência se revela mais comum e usual, transformando o herói numa vítima a esquiva da morte em vários sentidos, enfraquecendo o potencial da narrativa que ainda carrega o nome de Bourne. Aqui Aaron sabe quem ele é. O destaque fica com seu implacável caçador, Eric Byer (vivido por um desperdiçado Edward Norton). 

Com bons artifícios estéticos que vão desde a montagem eficiente até o trabalho de fotografia que fundamenta maniqueísmos através da composição das cores em suas representações, “O Legado Bourne” busca relembrar o que já fora feito e propor ao público que este é, de fato, uma continuação da bem realizada franquia. Tal obra vem com pretensões de criar, provavelmente, uma nova trilogia. Esquecer Jason Bourne será algo impossível, sobretudo pelos feitos da produção que arrecadou mais de 1 bilhão ao longo dos 3 filmes. Não será possível enterrar o personagem. Quem sabe ele possa dar as caras no futuro?! Já Jeremy Renner, ótimo em “Guerra ao Terror” e “AtraçãoPerigosa”, e recentemente marcado por viver o Gavião Arqueiro em “Os Vingadores”, segura bem o papel de herói, mesmo que sofra com comparações inevitáveis com Matt Damon. Potencial para crescer, o filme tem. Que não se torne um mero caça níquel. 


sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Proseando sobre... E a vida continua



Baseado num livro de 1968 psicografado por Chico Xavier através dos relatos do espírito André Luiz , o filme “E a vida continua...” ganhou as telas cinematográficas com a direção de Paulo Figueiredo. Esse é mais um representante do cinema espírita, subgênero que vem ganhando força no cinema nacional, com constantes sucessos de público e fracassos de críticas. A idéia, pelo que estes filmes apresentaram até então, é comercializar a doutrina do espiritismo. A proposta é evidente, poderia ser disfarçada nas entrelinhas da produção como todos outros projetos tendenciosos fazem, caso estivessem envolvidos diretores e roteiristas competentes e atrelados a arte cinematográfica em suma, e não a um comercial de mais de 90 minutos.

Trazendo discursos morais através da hipótese de um mundo onde residem os espíritos, o longa escrito pelo próprio diretor é extremamente didático, cuidadosamente explicado, fruto de circunstâncias que podem esclarecer ao público o que está acontecendo. O planeta Terra nada mais é do que um local onde abriga-se matérias – o corpo humano – em formação pessoal. Para o desenvolvimento da trama, tão simplória e sem virtudes narrativas, um arco dramático é criado, centrando em duas vidas unidas por Deus num hospital – o que chamaríamos de coincidência, nomeiam de propósito. Daí um aprendizado, um afago ao risco frente à morte. 

Com dois personagens em estado terminal, Evelina (Amanda Acosta) e Ernesto (Luiz Baccelli), o filme laça os espectadores a partir da oferta da esperança e do desconhecido, plano que será trabalhado no futuro do longa, mas que já ganha alguns adiantamentos de Ernesto que discursa sobre a morte e teoriza a respeito de seu pós. Os conceitos e práticas da religião são impostos, o que garante a empatia dos seguidores da doutrina. Algo natural e que deve-se levar em conta, afinal, é para eles que a obra fora concebida. Há ainda um método prático para nos solidarizarmos pelos personagens quando percebemos duras injustiças em suas vidas. Ações que escorrem até os princípios do pós morte, retratando, entre outras suposições, a reencarnação. 

Todo o enredo vai de encontro com os artifícios frouxos colocados pelo filme, como o melodrama, a trilha lenta e a vagarosidade, fora a caricatura e a tendência explícita em acalentar o público atrás de respostas. Nem a fotografia, algo bem utilizado em produções anteriores, ganha boa atenção aqui. Quanto às atuações, essas são das mais risíveis, encenadas, como se o diretor não obrigasse ninguém a repetir tomadas, ou por pura pressa em finalizar o projeto. O trabalho de som é outro problema escancarado, quase desconfiei de que os atores estavam dublando suas falas. Nem Lima Duarte se dá bem na empreitada que não preza seu talento, dando a ele o encargo de instrutor num céu. Beira o ridículo a composição geral, não a hipótese. Trata-se de um filme, e é justamente sobre o filme que este texto trata, não sobre o que este procura apresentar, ou vender. 


terça-feira, 18 de setembro de 2012

Proseando sobre... Resident Evil 5: Retribuição

A coisa não para. Tão rentável quanto rasa, a franquia Resident Evil já prevê uma sexta parte. E não é preciso testemunhar esse para perceber isso. O diretor Paul W. S. Anderson segue à frente dos filmes nesse quinto capítulo – ele dirigiu o primeiro e retomou a direção no quarto, além de ter roteirizado todos. Alice segue perdidaça, enfrentando ainda mais problemas após achar que tudo estava resolvido, mas ganhando agora um apoio inesperado. Sem muito a acrescentar ao que já conferimos, espiaremos de perto e em 3D – de qualidade, com boa profundidade e serventia a narrativa – os vários closes, coreografias e cenas de violência contra zumbis e criaturas mutantes de forma plasticamente irrepreensível, contando ainda com a presença de caras bonitas, um estimulo hormonal quando os esquemas visuais já foram tolerados. Ao final, após tanto sangue, golpes e estardalhaços, a impressão é de que ao assistirmos estamos igualmente zumbificados e babando.  

Adaptada a partir de um jogo de grande sucesso, a franquia vem encontrando caminhos para se consolidar ainda mais e tirar tudo que é possível de sua simplória história com reviravoltas inconcebíveis, ação desenfreada abarrotada de efeitos especiais competentes e gana por sangue a partir do mito do zumbi, muito embora este esteja longe de ser um dos melhores exemplares do gênero. A crítica social presente alegoricamente nos filmes com mortos vivos até se apresentou com certo préstimo no início, se perdendo posteriormente, principalmente por não ser o foco central, afinal, o inimigo é outro: fabricantes de um vírus com potencial para causar uma pandemia, experiência relacionada diretamente com a Corporação Umbrella. Em Resident Evil 5: Retribuição (Resident Evil: Retribution, 2012) algumas coisas ganham explicações que vêm acompanhadas de flashbacks. É preciso nos lembrar o que houve, pois são filmes perfeitamente descartáveis da memória.

Feito para impressionar através da tridimensionalidade, percebemos o desenho de produção buscando a todo instante desculpas para coisas saltarem aos nossos olhos ou nos dar a sensação de fazer parte do filme. Os efeitos definitivamente são bons, mas tão desgastados que não impressionam mais — Matrix (idem, 1999) ainda exala inspirações. Ao menos há um acréscimo e resgate de alguns bons personagens que dão um sentido maior as pretensões da história, como Rain (Michelle Rodriguez), Jill (Sienna Guillory), Wesker (Shawn Roberts) e particularmente Ada Wong (Bingbing Li) que explana de maneira singular uma persona enigmática, caracterizada lubricamente. 

É tanta originalidade que os roteiristas acharam uma boa idéia contextualizar a história sobre uma base militar abandonada na época da Guerra Fria, o que leva os protagonistas a encararem um dos vilões mais usuais dos norte americanos, os russos. Zumbis russos. O universo retratado não tem lá muitos significados e simbolismos, o desenvolvimento óbvio da trama demonstra os seus interesses e a composição de sua vilã, como visto anteriormente, continua efêmera, sendo a Rainha Vermelha uma versão de HAL 9000 de 2001: Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odissey, 1968) sem a diligência e caráter de novidade. Tê-los comparado pode me render severas punições de cinéfilos.

Paul W. S. Anderson investe numa história que se aproxima um pouco mais do jogo, e a sensação é justamente acompanhar o game com todos os seus excessos. As câmeras lentas exibindo bons atributos estéticos tem como finalidade demonstrar caprichosamente a exuberância do feito belo, sem a vagarosidade de Zack Snyder. Numa ótica exibicionista em filmagem, não há como ignorar a maneira com a qual o diretor mostra sua estrela e também esposa, Milla Jovovich, como quem exibe um troféu tornando-a numa musa irrevogável para o deleite de qualquer voyeur, empunhando armas e com roupa de couro apertada. Motivo de piada em determinado instante.

Fugas furtivas, atos sem sentido, motivações questionáveis e noção de tudo fazer parte de uma fase em algum jogo – há até a criação de cenários digitais. Tudo isso é o que condensa esse Resident Evil 5: Retribuição. Próximo do fim, ao tentar constatar e digerir o que vi em cena, me veio a mente imediatamente o personagem de J.K. Simmons em Queime Depois de Ler (Burn After Reading, 2008), quando ele se pergunta após acompanhar uma caótica e bizarra investigação: o que aprendi? Não foge disso, é ver. Apenas ver. 

Crítica primeiramente publicada em http://www.cineplayers.com/critica.php?id=2486


sábado, 15 de setembro de 2012

Proseando sobre... O Ditador



Não é um filme politicamente correto. Na verdade não é nada politicamente correto e deve ser encarado como tal, mesmo que algumas piadas possam parecer ofensivas ou até mesmo agressivas para algumas pessoas. Para as pretensões da narrativa, são necessárias. E em defesa desse filme muito bem carregado por Sacha Baron Cohen, o foco central não é, em qualquer hipótese, humilhar os alvos das piadas. Nada disso. Mas gozar de quem as profere, tornando-o num indivíduo absolutamente tolo e ingênuo. Iguais a ele, existem muitos. E são justamente esses que são satirizados. A dedicatória vai para Kim Jong-il. A lista de homenageados poderia ser bem maior.

Com seu tradicional humor ácido que incomoda muita gente, Sacha Baron Cohen encarna em seu mais novo personagem, o Ditador Aladeen. Egocêntrico e sem malícias, é o senhor do povo da República de Wadiya e juntamente a alguns cientistas, está desenvolvendo uma arma nuclear para fazer frente a grandes potências mundiais. O interesse bélico o faz ser questionado e, em visita aos Estados Unidos para um encontro na ONU a fim de explicar suas motivações para a criação de uma bomba, se dá conta de questões que nunca havia julgado ou aprendido, tanto por desinteresse ou por ignorância. Há mais força na segunda hipótese, tanto que alguns termos incompreensíveis a ele foram simplificados e alterados para “aladeen”.

Esta é mais uma parceria entre Cohen com o diretor Larry Charles. Ambos trabalharam juntos no ótimo “Borat” e no infeliz “Brüno”, chegando em “O Ditador” a uma terceira e saudosa realização. Tomado por excessos e situações que poderiam ser reais, como nos filmes anteriores, a obra não se limita a fazer piada com alguns povos e minorias, degradando através do humor raças, credos e etnias, de forma análoga ao repórter do Cazaquistão. Com um comportamento infantilizado, fruto do aprendizado de uma vida, ele se mostra incapaz de acatar críticas ou contrariedades. Quando, em certo momento, concluímos que a experiência em território americano mudou-o, temos uma surpresa.

Carente de afeto, seu ressentimento é visível em seu espaçoso quarto, sua enorme cama onde dorme sozinho e na parede tomada por fotos evocando companhias compradas. Descompromissado de relações amorosas, ele celebra conquistas juvenis, e numa cena específica, impagável, percebe a possibilidade da masturbação, uma execução pessoal que jamais tinha experienciado. Junto a essa, outras emergem. Segue-se, então, um tipo de filme que fala da auto-descoberta, percepção interessante que o diretor compartilha em cenas aleatórias e enlouquecidas. Como ignorar o momento do parto no chão de um mercado e o interesse romântico disposto pelo toque entre o ditador e a feminista Zoey (Anna Faris).  

Agraciado por gags relevantes e aparições comedidas de atores como Megan Fox e Edward Norton, além de personagens encenados por intérpretes do calibre de Ben Kingsley e John C. Reilly, o longa expõe a fragilidade de seu protagonista e também sua necessidade de auto-afirmação, sem discriminar certo, errado, ética ou moral. É sua obsessão pelo sucesso e poder, tornando-o numa figura horrenda do ponto de vista político e social. E dentro desse estigma, Cohen é talentoso ao expressar as manias e as compensações de Aladeen, bem humanizado, alguém que precisa demonstrar imponência como disfarce de sua mediocridade, dentre outros problemas. Sem preconceito aos preconceitos tratados, “O Ditador” é garantia de diversão e humor negro de ótima qualidade.        


terça-feira, 11 de setembro de 2012

Proseando sobre... Rock of Ages



É dia de Rock no Cinema. E que outro gênero mais emplacou canções no mundo cinematográfico? É sempre um deleite conferir o bom e velho Rock n’ Roll, seu estilo, atitude e ode a liberdade. “Rock of Ages” vem trazer um pouco desse universo com canções e expressões. Os rockeiros, naturalmente, aguardavam com certa ânsia este musical que provavelmente traria referências a alguns de seus mais célebres deuses. Vibração e energia contagiante não faltam a produção, no entanto este é um atributo pequenino referente a ideologia do gênero e o que este pode verdadeiramente oferecer. Muito, sem qualquer dúvida! Neste trabalho dirigido por Adam Shankman falta um ingrediente fundamental, mais do que necessário: o Rock!

O filme vem prestar homenagem ao rock, mas é frustrante, inconcebível, já que assisti-lo é como ouvir uma banda de rock sem a guitarra. Falta um brio que o torne marcante, sua agitação e alusões são leves como plumas. Falta a veemência nas ações e ardor nas interpretações. “Rock of Ages” traz muito mais questões de um seriado como “Glee” e sua meiguice do que da expressão que deseja transpor em tela. Esta obra é inspirada num musical da Broadway de grande repercussão que dotava de canções dos anos 80. Responsável por este musical acontecido em 2005, Chris D'Arienzo foi escalado para escrever o roteiro deste filme dirigido por Shankman, o cara que dirigiu o musical de relativo sucesso “ Hairspray - Em Busca da Fama”.

Sherrie (Julianne Hough) é uma jovem que sai de uma pequena cidade em busca da fama em Los Angeles. Igualmente a milhões de pessoas, ela almeja sucesso e se depara com sérias dificuldades. Sua história é igual à de qualquer outro sonhador na cidade, com o mesmo passado e abandonos, questões previstas por Dennis Dupree (Alec Baldwin), proprietário da casa de shows The Bourbon Room. No mesmo caminho está Drew (Diego Boneta) que sonha ser uma estrela do rock igualmente seu ídolo, Stacee Jaxx (Tom Cruise, ótimo encarnando uma versão de Axl Rose). Encontros, desencontros, vitórias, derrotas, bebedeiras, músicas e sexo. Faltou as drogas, se bem que o álcool praticamente dá conta de tudo. Conflitos se sucedem e inspiram acontecimentos que poderiam, sem qualquer dúvida, elevar a essência do filme, como a frustração pelo insucesso que leva a rasa personagem da bela Julianne Hough a ir trabalhar numa boate. Um caminho semelhante de degradação acomete a interessante Patricia Whitmore (Catherine Zeta-Jones) que quer derrubar o rock juntamente a uma tropa de religiosas podadas e intelectualmente limitadas que creditam o estilo musical a obra do demônio. Ahhh se fosse, grandes espetáculos aconteceriam no inferno. 

Com minúcias e privações narrativas, ao que parece, o filme visa abarcar um público jovem acostumados a protestar no twitter. Quanto as músicas e a história, pouquíssimo nos é oferecido.  Seguiremos também as pretensões financeiras do vilão, o empresário com poucos escrúpulos Paul Gill (Paul Giamatti, sempre ótimo em cena). Fica no ar uma sutil crítica as indústrias fonográficas que escolhem o que temos de ouvir, nos alimentando com bobagens comerciais nos lembrando que o que é bom é o que está tocando na rádio, por mais cretina e estúpida que a música seja. A maioria é. Sucesso nunca foi sinônimo de qualidade. Nem toda composição é feita por e com paixão. É bom ouvir algumas canções cantaroladas pelos atores que se divertem como podem. O Rock, afinal, é imortal. Este não escolhe classe ou credo. Isso pede um brinde diante tanta mediocridade.