terça-feira, 18 de setembro de 2012

Proseando sobre... Resident Evil 5: Retribuição

A coisa não para. Tão rentável quanto rasa, a franquia Resident Evil já prevê uma sexta parte. E não é preciso testemunhar esse para perceber isso. O diretor Paul W. S. Anderson segue à frente dos filmes nesse quinto capítulo – ele dirigiu o primeiro e retomou a direção no quarto, além de ter roteirizado todos. Alice segue perdidaça, enfrentando ainda mais problemas após achar que tudo estava resolvido, mas ganhando agora um apoio inesperado. Sem muito a acrescentar ao que já conferimos, espiaremos de perto e em 3D – de qualidade, com boa profundidade e serventia a narrativa – os vários closes, coreografias e cenas de violência contra zumbis e criaturas mutantes de forma plasticamente irrepreensível, contando ainda com a presença de caras bonitas, um estimulo hormonal quando os esquemas visuais já foram tolerados. Ao final, após tanto sangue, golpes e estardalhaços, a impressão é de que ao assistirmos estamos igualmente zumbificados e babando.  

Adaptada a partir de um jogo de grande sucesso, a franquia vem encontrando caminhos para se consolidar ainda mais e tirar tudo que é possível de sua simplória história com reviravoltas inconcebíveis, ação desenfreada abarrotada de efeitos especiais competentes e gana por sangue a partir do mito do zumbi, muito embora este esteja longe de ser um dos melhores exemplares do gênero. A crítica social presente alegoricamente nos filmes com mortos vivos até se apresentou com certo préstimo no início, se perdendo posteriormente, principalmente por não ser o foco central, afinal, o inimigo é outro: fabricantes de um vírus com potencial para causar uma pandemia, experiência relacionada diretamente com a Corporação Umbrella. Em Resident Evil 5: Retribuição (Resident Evil: Retribution, 2012) algumas coisas ganham explicações que vêm acompanhadas de flashbacks. É preciso nos lembrar o que houve, pois são filmes perfeitamente descartáveis da memória.

Feito para impressionar através da tridimensionalidade, percebemos o desenho de produção buscando a todo instante desculpas para coisas saltarem aos nossos olhos ou nos dar a sensação de fazer parte do filme. Os efeitos definitivamente são bons, mas tão desgastados que não impressionam mais — Matrix (idem, 1999) ainda exala inspirações. Ao menos há um acréscimo e resgate de alguns bons personagens que dão um sentido maior as pretensões da história, como Rain (Michelle Rodriguez), Jill (Sienna Guillory), Wesker (Shawn Roberts) e particularmente Ada Wong (Bingbing Li) que explana de maneira singular uma persona enigmática, caracterizada lubricamente. 

É tanta originalidade que os roteiristas acharam uma boa idéia contextualizar a história sobre uma base militar abandonada na época da Guerra Fria, o que leva os protagonistas a encararem um dos vilões mais usuais dos norte americanos, os russos. Zumbis russos. O universo retratado não tem lá muitos significados e simbolismos, o desenvolvimento óbvio da trama demonstra os seus interesses e a composição de sua vilã, como visto anteriormente, continua efêmera, sendo a Rainha Vermelha uma versão de HAL 9000 de 2001: Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odissey, 1968) sem a diligência e caráter de novidade. Tê-los comparado pode me render severas punições de cinéfilos.

Paul W. S. Anderson investe numa história que se aproxima um pouco mais do jogo, e a sensação é justamente acompanhar o game com todos os seus excessos. As câmeras lentas exibindo bons atributos estéticos tem como finalidade demonstrar caprichosamente a exuberância do feito belo, sem a vagarosidade de Zack Snyder. Numa ótica exibicionista em filmagem, não há como ignorar a maneira com a qual o diretor mostra sua estrela e também esposa, Milla Jovovich, como quem exibe um troféu tornando-a numa musa irrevogável para o deleite de qualquer voyeur, empunhando armas e com roupa de couro apertada. Motivo de piada em determinado instante.

Fugas furtivas, atos sem sentido, motivações questionáveis e noção de tudo fazer parte de uma fase em algum jogo – há até a criação de cenários digitais. Tudo isso é o que condensa esse Resident Evil 5: Retribuição. Próximo do fim, ao tentar constatar e digerir o que vi em cena, me veio a mente imediatamente o personagem de J.K. Simmons em Queime Depois de Ler (Burn After Reading, 2008), quando ele se pergunta após acompanhar uma caótica e bizarra investigação: o que aprendi? Não foge disso, é ver. Apenas ver. 

Crítica primeiramente publicada em http://www.cineplayers.com/critica.php?id=2486


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