terça-feira, 9 de outubro de 2012

Proseando sobre... Até que a Sorte nos Separe



O sonho de todo brasileiro: ganhar na mega-sena e ter a vida resolvida. Pouquíssimos gozam dessa oportunidade. No filme, um casal de classe média-baixa fatura 100 milhões da noite para o dia, o que os faz largar seus empregos e ter uma vida de luxo exacerbada, torrando milhões com viagens, roupas, plásticas e comidas. Adquirindo tudo que o dinheiro pode comprar, a dupla que possui dois filhos e uma bela mansão com decorações coloridas refletindo a alegria em suas vidas, irá passar por sérios apuros após o patriarca Tino (Leandro Hassum) descobrir que suas dezenas de cartões de crédito não possuem mais fundo e que mais do que falido, está com altas dívidas. Esta reviravolta é o mote para uma série de situações das mais comicamente desprezíveis. “Até que a Sorte nos Separe” é uma comédia elaborada a partir da adaptação do livro “Casais Inteligentes Enriquecem Juntos”, de Gustavo Cerbasi. 

Comédias de situações são vistas, revistas, referenciadas e expurgadas anualmente dentro de nossa cultura cinematográfica. Esse é mais um dos representantes do riso fácil e trivial, conferidas nas telinhas em programas de humor cujo humor é ausente. Leandro Hassum é um de seus mais ilustres representantes. Carismático, ganha o público com suas facetas e caretas, mas a mesmice esgota em menos de meia hora e sua persona passa a aborrecer previsivelmente. Seu personagem que funcionaria melhor se fosse apresentado em apenas alguns momentos sustenta com dificuldade a narrativa. Ele está estereotipado em demasia e por vezes irritante, segurando uma história frívola pouquíssima convincente. É para divertir e não se levar a sério. Alguns podem defender o filme assim. Até daria certo se a idéia, ao final, não fosse espremer uma moral vazia sobre a vida. 

Roberto Santucci, diretor do sucesso “De pernas pro ar”, é quem está por trás das câmeras. Habituado a esse tipo de humor – o cara deve ter gostado de filmar comédias ou da grana veiculada a elas –, o diretor permite que seus atores façam graça como podem. Não ache estranho experimentar algumas sensações de já ter visto algumas coisas antes em ao menos 3 ou 4 momentos da projeção. Nesta história, o par romântico de Hassum é Danielle Winits, uma consumidora compulsiva que não vê problemas, segunda a mesma, de voltar a ser pobre. Tomada por botox e extravagâncias, a loura anuncia uma terceira gestação, levando o marido a ter que bolar condições para que ela não descubra a falência, o que resultaria em complicações para a gravidez, já que está é de risco. De outro lado, no vizinho, uma subtrama: um casal vive com problemas por conta do planejamento financeiro de Amauri (Kiko Mascarenhas), ele nega um segundo filho temendo inflacionar o orçamento. Desenvolve-se aí o contraste de relações e posturas entre vizinhos – é perceptível a casa do segundo, diferentemente do primeiro, com cores frias, informando visualmente o quão decadente e triste tem sido o convívio familiar. Há ainda uma terceira história composta por um homem que enriqueceu, mas não teve mulher e filhos, lamentando-se arrependido. 

A passagem de tempo do filme se desenvolve por cerca de 9 meses, ostentando o tempo e gravidez da mulher. Essa noção temporal é algo absurdamente ignorado pelo diretor que aparenta ter esmiuçado muito menos. 1 mês, talvez. A percepção é a barriga crescendo, e os eventos ao redor petrificados. Ainda conta-se com a participação de Ailton Graça imitando um gay. Tal encenação ainda funciona? Não! A originalidade também não é das maiores: se situações como uma partida de tênis entre um idoso centenário com Tino é um dos clímax do filme, então é para se preocupar com o quanto seus produtores subestimam a inteligência do público. Engraçadíssimo como um quadro do Zorra Total e inteligente como os Teletubbies, esse “Até que a Sorte nos Separe” é mais um exemplo do que há de pior no cinema brasileiro: a falta de coragem de fazer algo grande, que não tenha que se prostrar frente uma canalhice confundida com comédia.      


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