quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Proseando sobre... Poder Paranormal



O cineasta Rodrigo Cortés saiu do suspense claustrofóbico – “Enterrado vivo” – e se aventurou no terreno da paranormalidade, investindo em uma trama recheada de ocultismo e fenômenos, contando ainda com um bom elenco e uma história abarrotada de potenciais. A expectativa gerada pela proposta do roteiro se fundamenta num mistério óbvio para a narrativa funcionar: a possibilidade de existir, de fato, alguém com poderes psíquicos. Acompanharemos uma investigação onde alguns casos são desmascarados graças a métodos científicos que explicam o que alguns consideram inexplicável. Entra no bolo dessa discussão a fé e o poder que alguns líderes religiosos demonstram com a finalidade de angariar alguns fieis com suas absurdas mentiras.      

Algumas verdades são difíceis de aceitar. Pode-se comprar verdades, atribuições do real que façam qualquer sentido. Não faltam charlatões que tentam vendê-las. Como num show de mágica, ilusões são ofertadas. Alguns não perdem a oportunidade de atribuir um feito a obras paranormais ou divinas, milagres ditos extraordinários que são perfeitamente elucidados. Recentemente acompanhamos Rebecca Hall desvendar mitos urbanos no suspense “O Despertar”. Leva-nos a questionar a moral desse tema e as razões para estarem aparecendo. Há quem ganhe a vida vendendo a ilusão do poder superior, é o que muitos fazem no longa de Cortés, com todos sendo desvendados pela implacável dupla: a psicóloga Margaret Matheson (Sigourney Weaver) e o físico Tom Buckley (Cillian Murphy). Acontece que há um caso que atravessou décadas onde um vidente cego, Simon Silver (Robert De Niro), após fazer sucesso há 30 anos em shows, retornou lotando teatros com sua dádiva cada vez mais impressionante. E fugaz!


Essa é mais uma oportunidade de ouro para a dupla desvendar os segredos por trás desse homem que arrasta multidões, no entanto, tais revelações são cada vez mais custosas, com ameaças e violência. O caráter dinâmico da história começa a perder a força quando algumas dicas são dadas – uma é importantíssima durante um diálogo entre Buckley e a estudante Sally Owen (Elizabeth Olsen, outra vez no âmbito do horror) – e quando o filme perde sua identidade de gênero, convertendo-se de um suspense investigativo num drama sensitivo, transitando ainda entre o romance, comédia e terror. Vícios narrativos afetam o diretor que dispõe de todos os artefatos mais básicos desse tipo de cinema, entretendo não pela história, mas pela curiosidade tentada, o que é pouco diante a possibilidade da oferta e postura inicial em tratar de modo crítico a polêmica de seu argumento.   

As motivações da protagonista são até compreensíveis, apesar de imbecis, dada sua posição enquanto pesquisadora. O que ela busca é uma verdade dentro dos fenômenos sobrenaturais, algo com poder o bastante para trazer de volta seu filho que está há anos em estado vegetativo. Sua pretensão supersticiosa é inteligível, mas refuta sua ciência. Em outra instância, em via diferente, está Buckley, obcecado em disseminar a hipocrisia de Simon Silver, sem encontrar margens que o denunciem. Uma cena de espancamento vem exprimir a moral vil daqueles que fazem da mistificação um mercado, pois mostra que qualquer ameaça potencial de derrubar um dogma deve ir para a fogueira. Rodrigo Cortés acerta o tom, mas vacila no desenvolvimento, concedendo respostas mastigadas e se vinculando as reviravoltas boçais, tolas e usuais, decepcionando quem estava predisposto a entrar na roda da charada e tirar qualquer proveito disso. 


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