segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Proseando sobre... Ted


“Ted” causou polêmica, ganhou a aversão de muita gente antes mesmo de ter estreado, sendo acusado de mal gosto e incorreto, ainda mais para o público infantil. Sabe-se, de antemão, que o filme não é direcionado a crianças. Detalhe às vezes ignorado. Assistimos a possibilidade de censura, algo felizmente frustrado, uma tentativa fracassada. Mais um meio para chamar a atenção para o filme. O filme ganha, o público ganha, afinal, “Ted” não é só um longa metragem polêmico que traz como protagonista um urso de pelúcia famoso usando drogas, obsceno e louco por prostitutas, mas é, sem dúvidas, uma das melhores realizações do gênero das comédias americanas dos últimos anos. Por mais absurdo que pareça ou bizarro que essencialmente seja, a história é deliciosamente indecente, brincando sem pudores com tudo e com todos.

Poucas figuras populares escapam do alvo das piadas de seu realizador Seth MacFarlane que dirige, escreve, produz e dá voz ao ursinho. Responsável por séries como “Uma Família da Pesada”, o cineasta não se preocupa com o politicamente correto e investe numa narrativa sem recatos, estimulando o absurdo e fazendo graça com isso, a partir do desejo infantil de uma criança no final dos anos 80. John Bennett era um menino ignorado até pelos garotos mais ignorados. Sempre sozinho, ganhou um urso no Natal, chamando-o de Teddy. Na mesma noite, fez um pedido: rogou para seu urso ganhar vida e lhe ser fiel pra sempre. Desejo concedido. Quase 3 décadas após, John (Mark Wahlberg) e Ted continuam juntos, compartilhando drogas, experiências sexuais, bebedeiras e paixões nerds. 

Vale ressaltar, entre tantos outros aspectos, as relações estabelecidas, todas críveis. A trinca composta por John, Ted e Lori (vivida pela recente eleita mulher mais sexy do mundo, Mila Kunis), namorada do primeiro, está em pleno conflito pelas escolhas do rapaz, passivo aos eventos exteriores e quase incapaz de se posicionar frente as adversidades cotidianas e ao emprego. Ele não resiste a um telefonema convidativo de Ted para um filme ou algum trago. Aí reside a principal crítica ao filme, o suposto mau exemplo que ele poderia transmitir, algo profundamente equivocado, pois, ao constarmos a mediocridade da vida da dupla estagnada, principalmente frente ao desenvolvimento profissional da garota, então concluímos que o exemplo sugerido seja errôneo. E o melhor, o que dá profundidade ao filme: Ted sabe disso, consegue reconhecer que aquele meio está trazendo conseqüências ao amigo e se questiona. Erra. Acerta. Decide. Características humanas compõem esse personagem muito bem construído através do motion capture.


As escolhas do diretor para modelar sua história são inteligentes. O tempo, por exemplo, é mostrado através dos cartazes de famosos lançamentos cinematográficos da época. Os anos 80 e 90 estão bem representados. E se estamos acostumados a ver Mark Wahlberg encarnando figuras virís, esse seu papel surpreenderá pela fragilidade. Aqui ele não posa de brucutu, mas como vitima da modernidade, do que sofreu na infância, distanciado do sonho americano. Ele é dependente do sistema e seu conforto é o urso, um tipo de objeto transacional. Preso ao prazer urgencial e contaminado por lembranças e ícones da infância, como Flash Gordon, John deixa-se se levar pelo tempo e seus sabores, resistindo as consequências. De pensamento infantilizado, o filme se delonga exprimindo o que há de pior em seus protagonistas, ao mesmo tempo que demonstra seus erros, confortando pelo arrependimento, medo e insegurança, frente a solidão. É aí que entra a proposta de Seth MacFarlane, debochar desse universo com um humor vulgar, perfeitamente funcional!  



Um comentário:

  1. Ted é um dos personagens mais impagáveis dos últimos anos. De fato, o filme vai além do mero humor politicamente incorreto e gratuito, apresentado criticas relevantes à sociedade. Belo texto, Marcelo!

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