sábado, 12 de janeiro de 2013

Proseando sobre... O Impossível



O aviso de que se trata de uma história baseada em fatos reais é um atrativo comercial que funciona muito bem. Fica ainda mais atraente quando se fala de um desastre de proporções magnânimas envolvendo crianças. As nações são solidárias aos pequenos. Já faz alguns anos que um Tsunami varreu o litoral oeste da Tailândia deixando milhares de mortos. “O impossível” vem lembrar este fato, centrando numa família americana que sobreviveu a calamidade e veio contar sua história de resistência. Quase temos acesso a tragédia em primeira pessoa, com efeitos especiais colaborando com nossa inserção naquele contexto. A direção é do espanhol Juan Antonio Bayona e os maneirismos cinematográficos são herdados de Hollywood e seu cinema de espetáculo.

Maria (Naomi Watts), Henry (Ewan McGregor) e seus 3 filhos foram passar o natal na Tailândia. Hospedaram-se em um resort belíssimo. Tudo ia maravilhosamente bem até uma ligação comprometer os pensamentos de Henry, já que este percebeu o emprego ameaçado e sua tranqüilidade correndo o risco de ser arruinada. Mas essa é uma preocupação irrelevante, absolutamente esquecida pela narrativa segundos depois. A maré de azar do patriarca aumentou notoriamente em poucos minutos quando repentinamente uma onda gigantesca surgiu devastando tudo antes mesmo dele gritar o nome de cada filho. Minutos depois, tudo sumiu. A história então se converte num conto de sobrevivência desesperada e temerosa, de modo transferível sensorialmente, já que o espectador sofre junto. O maior mérito do filme é conseguir transmitir essa sensação com muitíssima competência.  

A história dos nativos é completamente ignorada em benefício da experiência caótica da família retratada. É compreensível dado seus objetivos. Após a onda, seguiremos duas diferentes histórias que divide a família: de um lado está Maria e seu corajoso filho, o incrivelmente sensato Lucas (Tom Holland), realizando uma jornada juntos, feridos, famintos e sedentos. A esperança de ambos quase se afogou naquele pesadelo. De outro lado Henry acompanhado dos pequenos Simon (Oaklee Pendergast) e Thomas (Samuel Joslin), igualmente atordoados. Vários ganchos amarram a história e esses soam naturais, como a lata de refrigerante – que surge posteriormente como necessidade e delírio – e o short que fora alvo de piadas em determinado momento, sendo fundamental para a resolução da história. 

Somos expostos a um melodrama prático, algo que poderá desagradar alguns, já que se somam e exageram. É um clichê esperado dada a temática sugerida. Também discute-se moral e solidariedade em meio aos caos. Por exemplo, na cena quando um grito por socorro ecoa entre escombros atrapalhando o percurso da sobrevivência. Deve-se desprezar os gritos por ajuda e seguir em frente, ou pensar no outro e por a própria vida em risco pela salvação de outrem? Numa cena próxima do final um sorriso aliviado denuncia a tendência do diretor. Juan Antonio Bayona conduz bem o filme e os efeitos especiais são hiper realistas. Há tempo para o desenvolvimento dos personagens num ato inicial, favorecendo nosso interesse por eles e de quebra, nossa torcida. Naomi Watts e Ewan McGregor estão ótimos ao demonstrarem toda a angústia expressa em olhares amargurados. É um longa metragem de momento que impressiona, aspirando lágrimas e emoção, como uma onda menor que passa tal como outras, sendo postergada em pouco tempo. 



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