terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Proseando sobre... O Último Desafio



Pode parecer saudosista, talvez seja, mas ver Arnold Schwarzenegger fazer um tamanho estrago nas telonas semelhante ao que fazia na década de 80 e 90 é algo para se festejar. É nostálgico para quem cresceu assistindo alguns ícones – que se encontraram recentemente em “Os Mercenários” – participarem de grandes filmes de ação recentes, mesmo que estejam longe de vivenciar personagens que garantiram permanência no imaginário popular como fora em outrora. Schwarzenegger não é um ator que simplesmente passou, o cara fez “Conan”, “O Exterminador do futuro”, “O Vingador do Futuro”, “O Predador” e “True Lies”, longas importantes cuja relevância é inquestionável. Após algum tempo como governador da Califórnia ele finalmente retornou ao estrelato e assumiu o protagonismo desse “O Último Desafio”, filme de ação pulsante, violento, cômico e metalinguístico, conferindo ao seu protagonista uma sátira muito bem colocada.   

A história é inventiva, embora pareça simplista e frívola num primeiro instante, talvez vítima de preconceitos. Um seqüestrador em fuga precisa atravessar a fronteira entre Estados Unidos e México. Ele consegue driblar o FBI e está a toda velocidade rumo a sua terra, mas para isso precisa atravessar uma pequena cidade do Arizona que possui um xerife implacável, Ray Owens (Schwarzenegger). Risível? Seria se não fosse a dinâmica proposta pelo diretor sul coreano Jee-woon Kim que filmou a algum tempo o faroeste “Os Invencíveis”, uma releitura de “Três Homens em Conflito”. “O último Desafio” é substancialmente um faroeste. No entanto, ao invés de cavalos, assistimos carros atravessando estados. Falamos precisamente de um Corvette e um Camaro. O cenário é típico do gênero, a fotografia busca o sol beijando a cidade construída sobre um campo deserto. O antes – espaço, armas, tradição – e depois – tecnologia, carros velozes – se complementam num filme virtuoso que explode em testosterona.

Não é, nem de longe, um representante artístico resultante de um progresso cinematográfico de atores que pretenderam ir além do brucutu imperioso estigmatizado, embora tenha esse alinhamento de gerações e o exercício da metalinguagem sobre seu protagonista. É, antes de qualquer coisa, um filme para divertir, para fazer recordar filmes e cenas célebres do cinema de ação descompromissado e azucrinado. Quando um cara surge dirigindo um Corvette a 300 quilômetros por hora rumo a pequena cidade decadente de Sommerton, aguardamos um clímax explosivo típico do western de outra geração. Anos 60 ou 70. Barricadas são montadas, caras escondidos em telhados e janelas empunham rifles. O saloon e os prostíbulos deram lugar a pequenas casas e bares, equipados com a modernidade, guardando o sabor do passado em suas representações no contexto filmado.  

A ação não para e situações se acumulam expostas de maneira concisa, buscando se estruturar na pele da figura de Arnold Schwarzenegger, celebrado, brincando com sua idade, embora demonstre força e imponência invencível ao longo de seus 65 anos. O ator tem presença em cena, isso nos faz querer recordar de outros atores atuais estrelas de filmes análogos que tem igualmente distinção. Ninguém vem a mente. Ao menos não da nova geração. Desenrola-se o projeto de Jee-woon Kim que estréia em terras americanas levando diferentes potenciais narrativos: o drama de um ex-soldado que se isolou sem familiares no interior do Arizona; e um filme de perseguição austera com belas mulheres figurando entre heroínas e vítimas; algumas naturalmente fatais. Os brutos ainda imperam.

Feito pra o Schwarzenegger explodir algumas pessoas e provar seu vigor, o projeto é um passaporte para os anos 80 com a legendária violência desmedida, vista atualmente como cômica. Muita coisa mudou. A narrativa, apesar de se debruçar no passado, acompanha a modernidade, tem seus excessos costumeiros e algumas soluções inspiradas, impossíveis de se levar a sério, porém pontuais: o cara com o agasalho da seleção holandesa. O roteiro também carrega alguns vícios e clichês, como o vilão – que tem que ser – mexicano (vivido por Eduardo Noriega) e a pequena trupe de ajudantes – outra piada lançada em um ato – que conta com um ex presidiário, o desajustado local Frank (Rodrigo Santoro), uma bela jovem corajosa, Sarah (Jaimie Alexander) e um imigrante, Mike (Luis Guzmán). Guilty pleasure.



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