sexta-feira, 12 de abril de 2013

Proseando sobre... Os Croods



Depois do ótimo “Como treinar o seu Dragão”, o diretor Chris Sanders abandonou os vikings e se concentrou em outros povos, nos homens de Neandertal. Juntamente a Kirk De Micco, idealizou esse “Os Croods”. Vale evocar, apenas para delinear o contexto, de “Os Flintstones”, sucesso absoluto de público em dezenas de países, que trouxe um viés interessante sobre a idade da pedra, conquistando fãs pela crítica social imposta nos episódios. Uma menção honrosa a uma referência de gênero. Com esse “Os Croods”, a coisa é um pouco diferente, não observamos uma sociedade capitalista como a vista na séria da Hanna-Barbera, assistimos um grupo familiar que resiste as ameaças de feras extintas. A palavra ‘medo’ é o lema do patriarca e líder, Grug. Para ele, o medo garante a sobrevivência. A família inteira se esconde dentro de cavernas saindo apenas para caçar. O exterior é uma incógnita perigosa. Todos rechaçam qualquer novidade. 

Como um tradicional personagem da Dreamworks, a protagonista, a menina Eep, irá desafiar seu meio em benefício de uma conquista pessoal – ou coletiva, dentro da lógica dos projetos do estúdio. Mas aqui o argumento está assegurado pelas circunstâncias da sucessão de acontecimentos de tal época. A menina adolescente irá contra todos os preceitos duramente defendidos pelo pai, as tais ações que repelem ameaças. Fuga. Grug acredita que estes preceitos tradicionais são os responsáveis por garantir-lhes a vida, já que outras tribos foram dizimadas quando se expuseram sob a lua. 

O pavor ao novo ecoa em várias representações, fazendo coro com o mito da caverna de Platão, ilustrado na narrativa enquanto alusão ao desejo de descobertas tencionados pela heroína. O lado de fora, o desprendimento do passado – do que essencialmente são – em benefício da evolução, como a cena em que as mãos dos personagens soltam uma rocha para se arriscar no mundo, é um curtíssimo momento que edifica a obra, não se tratando unicamente de mais uma animação pra buscar mera recreação, mas ser minimamente relevante enquanto um registro histórico – embora esteja longe, longíssimo, de ser infimamente fiel. A cena se repete duas vezes com personagens distintos – geracionais –, demonstrando o quão difícil fora tal processo de libertação através do tempo. 

Vai ainda mais longe quando o herói grosseiro – um Shrek das cavernas – percebe que sua força bruta já não é o bastante, obrigando-se ao uso do raciocínio, fundamental para a salvação da espécie, encontrando ferramentas que possam ser usadas em vantagem. Acompanhamos o processo de seleção natural no meio do caos da separação continental. Todos saem em busca da luz, o sol como expoente, distante e inalcançável. Pensa-se no domínio sobre ele com a descoberta do fogo. Isto é representado por um outro personagem apresentado após conhecermos devidamente o universo Neandertal.  

A Dreamworks, mais do que nunca, investiu na concepção de seus personagens, caracterizando seus trejeitos e dicções, desde o modo de falar até o de se expressar, sem delicadezas. O modo como a família se movimenta, com as mãos tateando o chão, semelhante a um símio, refuta o modelo visto no garoto solitário – este já adaptado as condições terrestres –, o corajoso Guy, que os Croods encontram durante uma fuga inevitável, já que Pangeia estava rachando, comprometendo o refúgio nas montanhas. É Eep quem descobre o rapaz após decidir dar uma escapada noturna, imediatamente depois de perceber uma estranha luz dançando na escuridão. O romance logicamente acontece, porém sem tanta força para tirar o foco da luta por sobrevivência, funcionando com gags e boas piadas. Também é motivo para Grug, o paizão protetor, desgostar do estranho Guy. Conflitos sobram.   

A elaboração grática da Dreamworks Animation é outro ponto considerável. O filme é visualmente bonito, caprichado e detalhado, tanto no cenário que trazem grandes florestas e cânions até os distintos personagens. Alguns vícios narrativos se mantém, como a fórmula de trazer um animal que garanta a simpatia do público, se responsabilizando por 2 ou 3 cenas deslocadas e tornar-se querido pelas crianças. Há ainda uma cena lindíssima de arte rupestre, quando Grug deixa algumas marcas nas rochas contando sua história. Basicamente o filme é isso, uma projeção da transição temporal e cultural de um determinado povo, de maneira recreativa e criativa, atestando o tempo que, quando presos, julgavam o perigo da inovação e se mantinham escondidos dentro da caverna, até testemunharem a realidade, extinguindo a ilusão que os mantinha oprimidos. O grupo então segue em progresso rumo a lucidez diante o obscurantismo.       


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