segunda-feira, 13 de maio de 2013

Proseando sobre... O Último Exorcismo 2



Está certo que O Último Exorcismo (The Last Exorcism, 2010) não desfrutava de uma das tramas mais originais. Sua diferenciação consistia na narrativa documental, febre que vem invadindo filmes do gênero terror nos últimos anos. O sucesso foi instantâneo, mais pela oportunidade do susto facultado do que pela trama desenvolvida que era um captador de todos os clichês do gênero. Tudo bem, funcionou. O público gostou. O prestígio foi tanto que pensaram numa continuação. Tem tanta gente fazendo por aí, por quê não fazer também? Assim, agora, estreou O Último Exorcismo - Parte 2 (Last Exorcism II, The, 2013), sequência dos eventos anteriores contando sobre o futuro da menina Nell. A coisa toda mudou, quer dizer, descambou-se num usual longa de horror sem as aspirações do primeiro. Ed Gass-Donnelly, o diretor que substitui Daniel Stamm, causou um estrago. 

Alguém tinha alguma expectativa de que essa continuação seria significativa? Seu precursor nem fora dos mais relevantes, contudo em boas mãos esta sequência teria algo a mostrar. É legal de se ver, juntar uma galera e ir ao cinema atrás de entretenimento da categoria. A coisa toda é gratuita, convencional as pretensões de atemorizar, não vai mais longe que isso. Se o intuito do espectador é gozar de possíveis sustos, então a obra terá algum proveito, pois consegue em minguados momentos causar sobressaltos. Sobram imagens horrendas de corpos retorcidos, olhos sombreados e feição de pavor, algo que a protagonista – a desconhecida Ashley Bell – consegue fazer muito bem, tal como no anterior. A moça é boa atriz, exprime pânico e insegurança em expressões imaculadas, mudando sua composição ao longo do filme até o ato derradeiro. 

O filme: Nell é encontrada algum tempo depois dos acontecimentos vistos na primeira parte. A tragédia é sobrelevada após uma curta intervenção psiquiátrica e a garota passa a ser integrada numa casa onde meninas com algum tipo de problema psicológico fazem tratamento de ressocialização. Ali ela adapta-se a vida urbana, distante da dinâmica rural de outrora. Este é um elemento com algum potencial que em certo instante ganha alguma entonação, sem muita força para se manter, já que a entidade que quase a sucumbiu – o apaixonado demônio Abalam – segue em seu encalço. Do campo para Nova Orleans, um predador saindo das florestas em direção a cidade. O tinhoso romântico ainda precisa lidar com um rapaz a qual Nell se apaixona. Aí a limitada originalidade expira. O Exorcista (Exorcist, The, 1973) segue fazendo escola em produções medíocres.

O demônio não poupa formas de manifestações, e este parece antenado a tecnologia. Ed Gass-Donnelly segue uma crescente onda de clichês para acertar o que o público mais espera: o temor voluntário. Máscaras macabras, planos subjetivos, sombras distorcidas, sugestões de investidas permeadas pelo silêncio, rádio, televisão, trilha sonora pontual. Tudo em benefício do terror. A história suplanta atrás de novas vítimas. O embate ciência versus religião, tão marcado na primeira empreitada, não tem aplicação nesta sequência. Ao menos não com tanta ênfase enquanto argumento narrativo. Em um instante, Nell encara as possessões como fantasias, tentando reconhecer sua sanidade conforme orientação de seu médico cuidador. Poderíamos nos importar com o que se passa com a garota, no entanto o roteiro dá pouca importância à empatia e não nos envolvemos o suficiente com a desgraça acometida em sua penosa vida.  

Revitalizado para o modelo extrínseco de filmagem, esta segunda parte é uma obra que visa aproveitar unicamente o sucesso passado, já que não tem lá muitas razões de existir. É bem verdade que uma continuação calharia bem, pois o primeiro deixa arestas aproveitáveis. O que fez-se, no entanto, resultou num longa ordinário cujo final tange hipóteses e divide opiniões. As idéias e motivações dessa franquia esgotaram? Provavelmente não. Ainda há muita pirofagia e sangue para mostrar, já que o último exorcismo não foi bem assim o último. Diversão contingente e inofensiva. Ao menos Abalam tem um bom gosto para
música.


terça-feira, 7 de maio de 2013

Proseando sobre... Somos tão Jovens



Entre cinebiografia e homenagem, “Somos tão jovens” não se dá bem em nenhum. É o filme que fala dos primeiros anos de sucesso do inesquecível Renato Russo, seu início no Aborto Elétrico até a glória em Legião Urbana. Aos que viveram os anos 80 e 90, e gostavam das canções do cantor, ouvi-las durante o filme quase faz passar despercebida a fraqueza narrativa do longa por conta da nostalgia. É ótimo perceber as melodias em alguns momentos, notar diálogos que remetem diretamente as mais famosas letras e vivenciar de alguma maneira o que foi aquela geração de rockeiros em Brasília. Assim, diante essa estrutura que fomenta a progressão de um dos mais notáveis nomes da música brasileira, reconheceremos a partir de trejeitos e estilos a transformação de Thiago Mendonça em Renato Russo. O resultado se equivale a uma homenagem televisiva, um especial filmado em algum momento para homenagear o cantor. Enquanto cinema, ah, deve muito. 

A começar, a direção de Antônio Carlos da Fontoura é estranha, desconjuntada, talvez por precaução. Em suas mãos está uma bomba. Como fazer um filme a altura de um mito? Fãs estão de vigília, muitos até se recusaram assistir a produção temendo o desfecho. Qualquer escorregão custaria caro. Ele investiu na música e encontrou algum êxito. Ao menos não fez feio, o que já é de grande valor. A preocupação do diretor foi, certamente, salientar os primeiros anos da figura Renato Russo sem buscar ir mais a fundo em sua história e psicologia. Isso frustra, já que desejamos conhecer melhor o biografado.. Temendo funcionar como um vídeo clipe, o diretor escolheu planos mais intimistas e quando exibia os shows, buscava a interação do público com o jovem em formação. Não é, definitivamente, um filme sobre a vida de Renato Russo.  

Uma das melhores investidas do longa é, sem dúvidas, a relação entre Renato e sua amiga Ana Cláudia (Laila Zaid). A garota, como mostra o filme, foi uma figura muito importante na vida do cantor. Mas ela de fato existiu? Não, é um personagem ficcional. Mas a trama gira em torno desse casal e se expande a um núcleo de relacionamentos, às vezes conturbados, outras vezes imprecisos, porém costumeiramente capazes de significar algo a ponto de fazer o protagonista pensar sobre suas experiências com o outro. Ele chega a gravar conversas, como assistimos em algumas cenas para depois ouvi-las e finalmente absorvê-las. 

Movido pelo frenesi das aspirações artísticas, a figura retratada de Renato tinha ciência do quanto poderia polemizar significando mudanças e ecoar reivindicações que atenderiam o povo a partir de sua filosofia e finalmente lutar contra o sistema instalado numa cidade em que pouca coisa acontecia. A revolução como bandeira motivou a criação de bandas que protestavam duramente contra o governo. Que país é este? Se perguntava Renato, entonando coros quando outros decidiram gravar suas composições.   

Thiago Mendonça faz um grande trabalho e garante a simpatia do público com sua entrega. Os outros atores levam bem, embora alguns surjam como caricaturas. O filme, no entanto, é vazio, sem muito a apresentar senão canções e um pouco do que fora o biografado. O roteiro brando e a direção econômica e precavida amarraram o longa tornado-o enxuto e breve, as vezes leviano. É bom de se assistir, e essa virtude pode ser vista como negativa, já que o sucesso é mais pelo que está representado do que pelo trabalho em suma. “Rock Brasília - Era de Ouro” diz muito mais, se me permitem comparações. Todavia, ainda que pequeno diante o potencial de seu material, vale a conferida como possibilidade de acesso ao passado e perceber jovens e seus sonhos radiantes, traduzidos em musicas imortais.