terça-feira, 7 de maio de 2013

Proseando sobre... Somos tão Jovens



Entre cinebiografia e homenagem, “Somos tão jovens” não se dá bem em nenhum. É o filme que fala dos primeiros anos de sucesso do inesquecível Renato Russo, seu início no Aborto Elétrico até a glória em Legião Urbana. Aos que viveram os anos 80 e 90, e gostavam das canções do cantor, ouvi-las durante o filme quase faz passar despercebida a fraqueza narrativa do longa por conta da nostalgia. É ótimo perceber as melodias em alguns momentos, notar diálogos que remetem diretamente as mais famosas letras e vivenciar de alguma maneira o que foi aquela geração de rockeiros em Brasília. Assim, diante essa estrutura que fomenta a progressão de um dos mais notáveis nomes da música brasileira, reconheceremos a partir de trejeitos e estilos a transformação de Thiago Mendonça em Renato Russo. O resultado se equivale a uma homenagem televisiva, um especial filmado em algum momento para homenagear o cantor. Enquanto cinema, ah, deve muito. 

A começar, a direção de Antônio Carlos da Fontoura é estranha, desconjuntada, talvez por precaução. Em suas mãos está uma bomba. Como fazer um filme a altura de um mito? Fãs estão de vigília, muitos até se recusaram assistir a produção temendo o desfecho. Qualquer escorregão custaria caro. Ele investiu na música e encontrou algum êxito. Ao menos não fez feio, o que já é de grande valor. A preocupação do diretor foi, certamente, salientar os primeiros anos da figura Renato Russo sem buscar ir mais a fundo em sua história e psicologia. Isso frustra, já que desejamos conhecer melhor o biografado.. Temendo funcionar como um vídeo clipe, o diretor escolheu planos mais intimistas e quando exibia os shows, buscava a interação do público com o jovem em formação. Não é, definitivamente, um filme sobre a vida de Renato Russo.  

Uma das melhores investidas do longa é, sem dúvidas, a relação entre Renato e sua amiga Ana Cláudia (Laila Zaid). A garota, como mostra o filme, foi uma figura muito importante na vida do cantor. Mas ela de fato existiu? Não, é um personagem ficcional. Mas a trama gira em torno desse casal e se expande a um núcleo de relacionamentos, às vezes conturbados, outras vezes imprecisos, porém costumeiramente capazes de significar algo a ponto de fazer o protagonista pensar sobre suas experiências com o outro. Ele chega a gravar conversas, como assistimos em algumas cenas para depois ouvi-las e finalmente absorvê-las. 

Movido pelo frenesi das aspirações artísticas, a figura retratada de Renato tinha ciência do quanto poderia polemizar significando mudanças e ecoar reivindicações que atenderiam o povo a partir de sua filosofia e finalmente lutar contra o sistema instalado numa cidade em que pouca coisa acontecia. A revolução como bandeira motivou a criação de bandas que protestavam duramente contra o governo. Que país é este? Se perguntava Renato, entonando coros quando outros decidiram gravar suas composições.   

Thiago Mendonça faz um grande trabalho e garante a simpatia do público com sua entrega. Os outros atores levam bem, embora alguns surjam como caricaturas. O filme, no entanto, é vazio, sem muito a apresentar senão canções e um pouco do que fora o biografado. O roteiro brando e a direção econômica e precavida amarraram o longa tornado-o enxuto e breve, as vezes leviano. É bom de se assistir, e essa virtude pode ser vista como negativa, já que o sucesso é mais pelo que está representado do que pelo trabalho em suma. “Rock Brasília - Era de Ouro” diz muito mais, se me permitem comparações. Todavia, ainda que pequeno diante o potencial de seu material, vale a conferida como possibilidade de acesso ao passado e perceber jovens e seus sonhos radiantes, traduzidos em musicas imortais.   

Um comentário:

  1. Poderia ter sido bem mais, de fato, embora o que o filme retratou tenha sido feito com competência. Mas ainda havia história pra contar, tanto que fica a impressão de que o filme terminou antes do que deveria.

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