Lançado em 2009, o reboot de Star Trek (Star Trek, 2009) que fora
filmado sob olhares desconfiados e temerosos de seus mais ferrenhos fãs
surpreendeu por ser um exemplar digno dos bons tempos de “Jornada nas
Estrelas”, respeitando as raízes, inovando e discutindo assuntos bastante
atuais. Em Além da Escuridão - Star Trek
(Into Darkness - Star Trek, 2013), o sucesso de repete e aperfeiçoa. O filme é
ainda mais empolgante, mais sério e trabalha com temas bem mais densos do que
seu antecessor, como a guerra, o terrorismo, arsenais bélicos, globalização e
religião. Entre as grandes produções recentes, esse é, sem exageros, um dos mais satisfatórios. Além de
coeso e competente diante o que propõe, funciona perfeitamente como uma
extensão relevante do lançado há 4 anos e digno diante o que significou a
franquia em seus tempos louros. Os méritos caem sobre seu diretor J.J. Abrams e
o ótimo elenco em sintonia.
Consigo imaginar alguma reunião
onde o diretor junto a sua equipe e elenco pedisse respeito e dignidade frente
ao que estavam realizando já que, além das exigências naturais para a
constituição de um bom filme de ação, especialmente de um gênero não tão
popular como o sci-fi, nesse caso tinha um peso maior. Nada mais justo. Ao que
parece, todos entenderam e igualmente a família montada dentro da poderosa nave
USS Enterprise, formaram uma equipe e tanto por trás das câmeras. Pensando
nessa sugestão hipotética, percebo o filme crescer mais aberto e corajoso em
inserir coisas novas, trabalhar com o passado e vislumbrar o futuro da série de
maneira sofisticada.
O texto é mais simples comparado
ao visto no longa anterior, porém mais fértil. A história traz toda a
tripulação diante um inimigo ainda mais perigoso, apresentado definitivamente
quando tripulação estava parada no planeta Kronos, local onde residem os famosos
Klingons. Lá descobrem algumas infortunadas verdades. Felizmente o filme não se
prende num maniqueísmo tradicional, há incitações de apelo global com
referências a contemporaneidade, assuntos vivenciados no dia a dia como ameaças
terroristas e a política enraizada. Reunindo a ação de primeira a qual o foco
não é somente impressionar – já que o que acontece não é gratuito –, com um
universo de referências políticas e religiosas, “Além da Escuridão” extasia. O
diretor é hábil ao conceber virtuosas cenas de ação e elaborar atos
esteticamente fascinantes, como aquele em que Spock e Kirk entram num elevador e, num plano
único, vão de um lugar a outro.
Entre noções temporais e
espaciais, dirigidas com impulso indagatório, já que reflete teorias, a ação dribla
e se mantém enérgica e praticamente ininterrupta. Algumas breves piadas
aparecem como alívio, todas bem pontuais sem excessos. Uma delas tem origem de
uma crítica religiosa onde uma civilização considerada atrasada que cultua
entidades e crê em milagres assiste arrebatada a salvação de seu planeta.
Rapidamente eles desenham a forma do que passam a considerar sagrado, desconhecendo
a origem real daquilo que lhes poupou.
Entre tantas ameaças, a da vez é Khan,
tradicional vilão da série, vivido brilhantemente por Benedict Cumberbatch. O
trabalho vocal de seu personagem é uma atração a parte. Percebemos uma ameaça
real, nos importamos com a tripulação e acompanhamos atentos os eventos, sem
sabermos dos reais interesses do antagonista, embora compreendamos suas
motivações. O elenco principal retorna: Chris Pine, Zachary Quinto, Simon Pegg,
Zoe Saldana e Karl Urban permanecem eficientes. Há o acréscimo de mais dois
atores, o veterano Peter Weller e a bela Alice Eve que protagoniza uma cena um
tanto desnecessária – todavia os homens não poderão reclamar.
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