sábado, 20 de julho de 2013

Proseando sobre... O Homem de Aço



Poderia-se fazer uma série de apontamentos entre a história de Clark Kent de Snyder com a de Jesus Cristo. Se para alguns isso pode soar uma afronta religiosa, ou um desrespeito ou qualquer outra coisa que possa neuroticamente parecer ofensivo a algum fundamentalista, para o diretor parece ser um grande argumento em pró do desenvolvimento do arco dramático de “O Homem de Aço”, visando aprofundar o herói e explicitar seu papel nos planetas Krypton e Terra. O Super Homem está mais maduro do ponto de vista da noção antropológica, ganhou ênfase na infância com seu proibido nascimento, o deslocamento até a Terra como fertilidade de seu desenvolvimento e finalmente os 33 anos, idade a qual se assume um extraterrestre com incríveis poderes em benefício da humanidade. O espaçamento temporal da infância até a idade adulta foi totalmente ignorado. Temos acesso a alguns dizeres que salientam algo sobre seu passado sem maiores e melhores aprofundamentos. A partir daí o filme explode em ação quase que ininterrupta, convulsiva e gratuita. 

Seu início passasse em Krypton, toda elaborada em CGI. Uma guerra vem dividindo o planeta opondo o general Zod (Michal Shannon) e Jor-El (Russell Crowe). O primeiro termina preso enquanto o segundo consegue mandar seu filho Kal-El – que mais tarde ganharia a identidade de Clark Kent – para um planeta semelhante. O destino é a Terra. Krypton fora completamente arruinada. Zod sobrevive juntamente a uma equipe desejosa em salvar sua espécie considerada superior. Eis o mote para uma série de vários acontecimentos envolvendo o pequeno kryptoniano com os terráqueos. Como este chegou e deparou-se com seus novos pais Jonathan Kent (Kevin Costner) e Martha (Diane Lane) é algo que o roteiro de David S. Goyer e Christopher Nolan (diretor da ótima trilogia “O Cavaleiro das Trevas”) não faz a menor questão de explicar. O que parece importar é que Clark cresceu apesar dos pesares e venceu suas dificuldades para se tornar o salvador do mundo num percurso de descrenças. 

O esgotamento de Krypton devido a devastação desenfreada dos recursos naturais ocasionada por seus habitantes rima com as condições atuais terrestres, nos fazendo aproximar daquele universo minado, não tão distante do que poderia acontecer no futuro da Terra. A maneira com a qual é mostrado o nascimento das crianças kryptonianas e a razão desse curioso investimento é uma aposta criativa do roteiro. Chegaríamos a tal ponto? O filme não se contextualiza basicamente em apenas um local no espaço como fora tratado nas obras anteriores. A coisa toda é mais megalomaníaca e ousada, expondo outros mundos visando dimensionar a responsabilidade do Super Homem e seu papel revolucionário. Andando contra o vento em busca da identidade que lhe falta, Kent atravessa os Estados Unidos a procura de emprego e de respostas. Encontra um OVNI congelado numa época de descobertas científicas, o que lhe aproxima de Lois Lane (Amy Adams em um de seus mais desinteressantes desempenhos na telona), salvando-a numa primeira oportunidade. 

Junto com a descoberta do OVNI, o mundo descobre também um extraterrestre, o próprio Clark que tenta provar que está ao lado da humanidade imediatamente após a repetina chegada ameaçadora de Zord. Tudo acontece demasiadamente rápido e logo assistimos uma guerra de imensas proporções encolhida num ponto em Metrópolis, o que nos levanta a dúvida sobre a noção espacial de seu diretor. Algumas escolhas são risíveis – o fim do personagem de Kevin Costner, por exemplo – e há diálogos constrangedores juntamente a cenas de incrível beleza técnica com um vazio descomunal. Essas nada significam a não ser demonstrar o quanto Zack Snyder segue atento ao visual deixando questões substanciais a cargo da interpretação dos espectadores. Henry Cavill é o super-homem da vez demonstrando vigor físico na mesma proporção que exprime falta de talento dramático. Nesse ponto, vale observar o bom elenco envolvido com grandes nomes desperdiçados. Snyder é talentoso e criativo, mas é fraco quando dirige atores. Neste meio se sobressai um Costner contido e Michal Shannon que vive Zod. Sua interpretação é certamente o que há de melhor no filme.  

Os passos deste Jesus heróico, ou melhor, de Kal-El ou Clark Kent são narrados sem muita emoção. Quase não nos inteiramos sobre quem de fato é o protagonista. Se ele começa perdido, parece terminar igualmente desorientado. Outra questão comprometedora diz respeito ao excesso de flashbacks que não consegue moldar a persona Clark Kent, nos distaciando de seu âmago. A sacada é exibir feitos tornando-o importante e distanciado num padrão social humano. Exploração fortuita que não chega a nenhum lugar, a não ser ao que verdadeiramente interessa: o heroísmo do salvador. Pra ficar ainda mais claro a fixação religiosa da trama, fora filmado uma cena grotesca numa igreja onde Clark pede conselhos a um padre. No fundo, no vitral, a imagem de Jesus resplandece. Soa bonita e até romântica a referência, mas ela é demasiada expositiva e sem qualquer profundidade dramática. Está ali por estar. Zack Snyder realiza seu pior filme, muito abaixo de grandes obras como “300” e principalmente “Watchmen”. Dispensou slow motion e assumiu a câmera de maneira convulsiva, insegura tal como o filme, transformando-o num exemplar de destruição ao melhor estilo grotesco de “Transformers” numa direção burra como a de Michael Bay. Bastante decepcionante!


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