quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Proseando sobre... Ajuste de Contas



Há quem pense que o filme trata do embate do século no boxe, ou coisa parecida. Não é difícil imaginar, basta lembrarmos e nos transportarmos ao final dos anos 70. Veremos Rocky Balboa e Jake La Motta se enfrentando no ringue e, espera, não é bem isso. A nostalgia está completamente a favor do filme, já que assistimos Sylvester Stallone e Robert De Niro, atores que viveram personagens pugilistas históricos, frente a frente. Aposentados dos ringues, eles retornarão para um novo desafio, um acerto de contas que se arrastou por 30 anos desde a última vez que lutaram. Há outras implicações que os opõem. As circunstâncias são outras, o tempo os alcançou e tirou suas habilidades, mas a técnica persistiu. Veremos Stallone contra De Niro, eles vivem, respectivamente, Henry 'Razor' Sharp e Billy 'The Kid' McDonnen. 

A rivalidade entre a dupla, que é o fio condutor da trama, deixa lapsos de memória dos fãs das antigas em vários pontos. Primeiramente com a computação gráfica que rejuvenesce os atores, aproximando-os dos velhos tempos no cinema. Também há uma série de referências a Touro Indomável (Raging Bull, 1980) e mais especificamente a Rocky, Um Lutador (Rocky, 1976) dando ao filme um caráter de sessão nostalgia. É bom ver, é bom presenciar atores cuja relevância ao cinema é inquestionável, revivendo personagens próximos daqueles em que atingiram a glória. Desfavorecendo o longa está a própria história que se entrega ao drama piegas da redenção. Fica chato acompanha-lo em alguns instantes. 

O cinema vem numa onda de trazer de volta alguns ícones da ação dos anos 70 e 80. Foi assim com Os Mercenários (Expendables, The, 2010) e RED – Aposentados e Perigosos (Red, 2010), explorando alguns atores entrando de cabeça na ação desenfreada mostrando que o envelhecimento serviu apenas para tirar alguns reflexos e minúcias. Praticamente continuam os mesmos. Isso acontece numa época em que estamos olhando com maior cuidado para a terceira idade. Adequadíssimo e necessário. Já esse Ajuste de Contas vem divertir com o frágil roteiro, vem representar o passado a partir de novas figuras, e isso passa a se questionável, já que a admiração termina ofuscada pela piedade. O humor instalado desde o início da projeção trata prioritariamente de revelar os novos tempos, esses tempos que esquecem de alguns que outrora foram importantes, tempos em que outros não conseguiram acompanhar – a tecnologia exibida envelhece ainda mais seus protagonistas incapazes de saber, nem mesmo, o que é o youtube.

O diretor Peter Segal pouco contribui para a obra, ela está semi cozida, precisando de um trato final. Esse não é dado. O roteiro ruim não permite alçar vôos maiores, parece achar o bastante a solidariedade e identificação dos cinéfilos – e fãs dos atores e seus respectivos personagens memoráveis referenciados – para o filme dar certo. Isso é pouco, pouco pelo que de fato representam. Enquanto Stallone e De Niro se divertem, Kim Basinger dignifica com sua beleza ao passo que o talentosíssimo Alan Arkin crava os melhores momentos. Jon Bernthal, o Shane de The Walking Dead vive, ahhh, Jon Bernthal, inexpressivo. Já Kevin Hart, o jovem empresário no mercado de lutas, tem seu timing cômico provado e muitas vezes excessivamente utilizado. O humor transcende a representação histórica, uma das cenas mais célebres está durante os créditos. Cena que a maioria dos pastelões mais populares do cinema contemporâneo não foram capazes de conceber.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Proseando sobre... Confissões de Adolescente




Que dureza essa história de falar de adolescência no cinema, ainda mais trazendo tantos em cena e procurando tratar de suas complexidades ao longo de 100 minutos. Não dá. Baita desafio que esse Confissões de Adolescente se propõe consumar. E olha só, consegue o feito de não ser desastroso. Há quem prefira que o filme continuasse enquanto série televisiva, exibida pela Tv Cultura. Talvez devesse mesmo. O fato é que, enquanto filme, levanta algumas mazelas corriqueiras que estamos habituados a acompanhar nos jovens. Faz isso com delicadeza e algumas pontas de ousadias, muito embora termine conservador demais, como se alguns assuntos fossem demasiado sérios para serem expostos na telona. O filme não vai muito longe nas mãos de Daniel Filho e Cris D'Amato, mas ao menos sai do lugar, o que já é muito.

Daniel Filho era o diretor da série. Acostumado com o assunto, não teve muita dificuldade em adapta-la para o cinema. Isso é visível na direção dos atores – formado por caras conhecidas e outros estreantes – e decisões narrativas, sempre indo pelo caminho seguro, às vezes levantando algumas questões, deixando-as suspensas sem preocupações em aprofundá-las. Aconteceu com o primeiro beijo, ou quando tratou da perda da virgindade, do bullyng e de uma paixão homossexual, e também nas cenas em que revelou as inseguranças de quatro garotas após descobrirem problemas financeiros e o risco de terem de se afastar dos amigos. São essas quatro que protagonizam a fita, quatro irmãs, tudo gira em torno delas.

As meninas são vividas por Sophia Abrahão, Bella Camero, Malu Rodrigues e Clara Tiezzi. Quando o pai (Cássio Gabus Mendes) avisa que precisarão se mudar por conta de gastos abusivos, a história começa a se desenrolar, mostrando angústias banais – mas de grande dimensão para adolescentes – relativas às novas condições que terão de enfrentar. A dinâmica entre as atrizes é boa, sustenta a trama e imprime um tom de verdade às situações. Não é um filme de interpretações, já que as atrizes estão vivendo a fase que demonstram em cena e colocam claramente percepções de si nos personagens. Falta, sem dúvidas, toda uma profundidade em volta dos acontecimentos e no núcleo de relações. As hostilizações e desentendimentos são vagos. O humor é tendencioso, porém funcional. O filme sai em tempos os quais a adolescência vem se tornando um subgênero do cinema nacional, a exemplo de obras como Antes Que o Mundo Acabe (idem, 2009), As Melhores Coisas do Mundo (idem, 2010) e Desenrola (idem, 2010).

A sacada dessas confissões vem de encontro aos novos métodos criados na internet. Estamos em uma época de grande exposição e as confissões, anteriormente deixadas em diários, ganha outras vertentes. Difere-se completamente da vista na série. Blogs, vlogs, redes sociais são alguns dos artifícios utilizados ao longo do filme, retratando com cuidado o público de hoje. Rola empatia, sem dúvida, é o retrato de uma geração. Corre o risco de tornar-se datado, mas quem não imagina que em 20 anos uma nova versão possa surgir com o frescor do que virá no futuro? Ao final rola até uma grata surpresa com relação ao tempo e o envolvimento de alguns personagens com ele. Através disso, acompanhamos uma progressão temporal e os resultados das experiências tensas de outrora ainda ecoando no presente, mas dessa vez com humor. Temos uma faísca de lembranças nostálgicas e gostosas sobre alguns ritos.


quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Proseando sobre... Atividade Paranormal: Marcados Pelo Mal



Novos rumos e os mesmos equívocos. O cinema tem com Atividade Paranormal: Marcados Pelo Mal um retrocesso que já é costumeiro em franquias caça níqueis. Essa é uma sequência irrelevante diante o que já foi produzido, embora os roteiristas busquem alguma inovação que faça o público comprar a idéia. O foco de outrora era assustar. Segue sendo, mas sem sucesso. Não há muito o que mostrar em seus quase 90 minutos. Situações adversas, gente nova no pedaço, trama envolvendo os longas anteriores e câmeras, câmeras que parecem extensões do corpo humano. Essas jamais são desligadas, não importa a situação. O terror quase converte-se em humor. Nos habituamos e com isso condenamos a franquia.  

Os roteiristas decidiram trazer personagens latinos. Um jovem mora sobre o apartamento de uma mulher chamada de bruxa por vizinhos e moradores do bairro. Ele sempre a teve por perto, sem qualquer contato, debochando de sua aparência e atitude. Após seu aniversário de 18 anos, finalmente aproximou-se dela após eventos catastróficos e percebeu sua vida virar um inferno imediatamente após vivenciar o prazer de possuir super poderes. A ótica do longa explana horizontes e se perde no poente sol que enterra o terror. As bruxas estão a solta montando um exército, temos cada vez mais clareza das intenções por trás das escolhas dos roteiristas.

A inovação proposta parte da dúvida sobre os eventos, do ceticismo daqueles que ouvem falar ou assistem vídeos no youtube quando Jesse (Andrew Jacobs) posta um vídeo mostrando as habilidades que estranhamente desenvolveu. Isso instiga a dúvida, especialmente dos supersticiosos que acreditam nos eventos ocorridos, as tais atividades paranormais. Ao menos esses se divertirão um pouco mais com o filme. O diretor Christopher B. Landon aposta nisso, prepara o terreno de um nicho já conquistado ao longo dos anos para surpreender pela inventividade. Infelizmente a leva de longas similares impedem que a proposta funcione conforme desejado. 

Semelhante aos outros, exceto por duas ou três decisões diferenciadas – como a tentativa de promover humor – a franquia segue inalterada e fadada ao fracasso. Vale pelos fãs revisitarem a mesma sensação em terreno distinto. Quem não gostou continuará não gostando. E o cinema se petrifica com mais um caça recompensa em nome de um filme que hoje não conta com números a cada sequência, mas com subtítulos. Perspectiva publicitária, uma fraude.