terça-feira, 5 de agosto de 2014

Proseando sobre... Guardiões da Galáxia

Há uma queixa bastante corriqueira sobre a quantidade de produções baseadas em heróis que vem sendo lançadas ano após ano. Para se ter uma ideia, há datas reservadas para filmes que serão lançados somente daqui 5 anos. Nunca se produziu tanto e a onda, ao que parece, tende a aumentar. O problema não diz respeito às produções em si, aos temas abordados, costumeiramente repetidos e pouco inventivos; a crítica reside na qualidade da obra, na qualidade de seu argumento que afugenta o ideal artístico cinematográfico para tornar-se, quase que unicamente, um produto, um produto facilmente vendido que faça parte de uma moda que não tem hora ou tempo para acabar. A Marvel encontrou essa mina e vem investindo pesado ao passo que outros estúdios acompanham devagar. Consolidada, até se dá ao luxo de arriscar, conforme esse seu novo filme, Guardiões da Galáxia, obra que para alguns já é a melhor de todas suas apostas.

Parte de uma linhagem rentável, este filme com personagens pouco conhecidos comparado aos outros, – Capitão América, Thor, Hulk e Homem de Ferro – se mostrou uma surpresa graciosa pela temática independente ao projeto Vingadores que tantos frutos lhe rendeu. Ela funciona a parte, uma realidade paralela estilizada na forma e estrutura de um universo distante que flerta, até mesmo, com Star Trek. Intencional ou não, pouco importa. Os heróis retratados são muitos, 5 novas figuras que seguramente ganharão a atenção do público, tornando-se uma franquia autônoma com potencial econômico e fãs espalhados que consumirão copos, bonecos, camisetas e qualquer outra coisa que diz respeito aos heróis mais anti-heróis desse universo composto pela Marvel Studios. 

Os protagonistas são outros, eles fogem a regra dos bons moços, do altruísmo. Modelam-se sobre uma metalinguagem a respeito de seus interesses e isso dá dinâmica ao roteiro absolutamente descompromissado, sem qualquer megalomaníaca pretensão narrativa. Não se levam a sério. Isso faz bem ao filme, refutando tentativas análogas vistas em Thor: O Mundo Sombrio (Thor: The Dark World, 2013) ou em Homem de Ferro 3 (Iron Man 3, 2013). Os Guardiões da Galáxia já nasceram erroneamente, nasceram no beco, são renegados, são ordinários. Tais características os faz dar certo juntos com suas diferenças. Nós rimos de suas presunções heroicas, de seus equívocos e interesses por vezes ambíguos. É quase um filme de comédia com ação. O humor não é regrado, existe por excelência, sem vergonha, descarado, tolo, imbecil e delicioso. É a proposta da obra. E ela funciona. 

A trama gira em torno de 5 renegados que precisam se juntar devido uma série de circunstâncias para sobreviver e evitar que uma criatura se fortaleça e tome as rédeas da galáxia. Algumas boas surpresas ainda virão, essas sim com ligação direta a proposta de Os Vingadores e a concepção do todo acaba sendo magnânimo, uma investida satisfatória, apesar da história pitoresca e banal. Melhor ainda é a trilha, embalando um soft rock dos anos 80 que liga passado e futuro de uma maneira notoriamente nostálgica. De simples desconhecidos, os 5 heróis foram a glória numa obra simplória e muito bem realizada, dirigida por James Gunn, um cara que flerta bem com a característica do bizarro até o filme b. Guardiões da Galáxia é um enlatadão, sem sombra de dúvidas, mas um enlatado que traz um sabor diferente. Muito embora não signifique nada ao espectador ao final, ao menos dessa vez a recreação objetivada tem função narrativa com seus divertidos anti-heróis à frente fazendo estardalhaços dos erros sem qualquer compromisso em ser impreterivelmente sério. Conveniente e convencional, agrada especialmente por ser honesto. 

Gostaria ainda de ressaltar a habilidade da atriz Zoe Saldana com sua Gamora, seus trejeitos e traços estilizados se equivalem em alguns instantes ao que fez com sua Neytiri em Avatar (Avatar, 2009).